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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Liturgia Dominical - 28/08/2011


22º DTC - Ano A - Dia 28/08/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: A palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha
Leitura do Livro do Profeta Jeremias 20,7-9: 7 Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos zombam de mim. 8 Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade e invocando calamidades; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. 9 Disse comigo: "Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele". Senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: A voz de Deus é mais forte e abrasadora
É a quinta confissão de Jeremias. O texto mostra o íntimo de alguém que se entregou à missão profética: primeiro, o profeta se sente contrariado por uma missão que ele não escolheu, mas para a qual Deus o destinou; em segundo lugar, nos momentos difíceis, o profeta tem lampejos de confiança, ao perceber que Deus está a seu lado, amparando-o com sua presença e força; por fim, forçado por circunstâncias difíceis, ele chega ao desespero, preferindo até mesmo não ter nascido.

Salmo Responsorial - Sl 62(63),2.3-4.5-6.8-9     (R. 2b)
R. A minh'alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus!
2 Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minh’alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água! (R)
3 Venho, assim, contemplar-vos no templo, para ver vossa glória e poder. 4 Vosso amor vale mais do que a vida: e por isso meus lábios vos louvam. (R)
5 Quero, pois, vos louvar pela vida, e elevar para vós minhas mãos! 6 A minh’alma será saciada, como em grande banquete de festa; cantará a alegria em meus lábios, ao cantar para vós meu louvor! (R)
8 Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! 9 Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta. (R)

Comentário: O amor de Deus dá sentido à vida
Súplica de um levita exilado
Longe do Templo, onde se manifesta a presença do Deus da Aliança, o levita se sente privado do seu elemento vital. Na esperança de voltar um dia a participar do louvor e banquetes rituais, o salmista reconhece que o amor de Deus vale mais do que a vida. Esta só tem sentido quando movida por esse amor. Lembrança de Deus, no silêncio da noite. Mesmo longe do Templo e da terra prometida, o exilado sente a presença de Deus que lhe sustenta o ânimo. Trata-se de uma presença muito especial: a ausência sentida.

Segunda Leitura: Oferecei-vos em sacrifício vivo
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 12,1-2: 1 Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. 2 Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é,o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O culto autêntico
A vida cristã é resposta à misericórdia de Deus e abrange toda a existência concreta do homem, representada pelo corpo como centro de vida e ação e de relação com Deus, com os homens e com o mundo. Cada cristão oferece a si mesmo, sendo ele próprio o sacerdote e o sacrifício vivo. Tal sacerdócio é exercido de modo prático através do não-conformismo, que critica as estruturas corrompidas pela injustiça, e através de discernimento novo, que sabe distinguir a vontade de Deus que leva à justiça e à vida.

Aclamação ao Evangelho Ef 1,17-18
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Que o Pai do Senhor Jesus Cristo nos dê do saber o espírito; conheçamos, assim, a esperança à qual nos chamou, como herança!     (R)

Evangelho: Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo
Proclamação ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,21-27: Naquele tempo, 21 Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir à Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia. 22 Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!" 23 Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: "Vai para longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!" 24 Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 25 Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. 26 De fato, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro mas perder a sua vida? Que poderá alguém dar em troca de sua vida? 27 Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta.   Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: A feliz recompensa
A pergunta de Jesus força os discípulos a fazer uma revisão de tudo o que ele realizou no meio do povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus. Os discípulos, porém, que acompanham e vêem tudo o que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é o Messias. A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Por isso, essa sociedade vai matar Jesus, antes que ele a destrua. Mas os discípulos imaginam um messias glorioso e triunfante. Pedro é estabelecido como o fundamento da comunidade que Jesus está organizando e que deverá continuar no futuro. Jesus concede a Pedro o exercício da autoridade sobre essa comunidade, autoridade de ensinar e de excluir ou introduzir os homens nela. Para que Pedro possa exercer tal função, a condição fundamental é ele admitir que Jesus não é messias triunfalista e nacionalista, mas o Messias que sofrerá e morrerá na mão das autoridades do seu tempo. Caso contrário, ele deixa de ser Pedro para ser Satanás. Pedro será verdadeiro chefe, se estiver convicto de que os princípios que regem a comunidade de Jesus são totalmente diferentes daqueles em que se baseiam as autoridades religiosas do seu tempo. A morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quer seguir a Jesus esteja disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). Jesus vinha exercendo seu ministério na Galiléia, onde se misturavam gentios e colônias judaicas, e nas regiões gentílicas vizinhas. Agora, tendo chegado bem ao norte, em Cesaréia de Filipe, como que dando por encerrado seu ministério nestas regiões, Jesus toma a decisão de voltar ao sul e, atravessando a Galiléia, seguir o caminho de Jerusalém. Nesta nova etapa de seu ministério, Jesus decide fazer seu anúncio libertador e vivificante diretamente entre as multidões de fieis do judaísmo que acorriam a Jerusalém, para atenderem ao preceito religioso de cumprir o dever de celebrar a Páscoa. Esta era a principal festa religiosa da tradição de Israel, e era a ocasião de todos os fieis, particularmente os que moravam em regiões mais distantes, trouxessem suas ofertas e dízimos anuais ao Templo. Jesus tinha consciência de que os chefes das sinagogas e do Templo de Jerusalém tinham a intenção de, em algum momento oportuno, matá-lo. A pregação e a prática libertadora de Jesus suscitara o ódio destes chefes, que tinham garantidos sua autoridade e seu poder a partir da Lei opressora, elaborada ao longo da tradição de Israel. Agora, a ida a Jerusalém poderia ser fatal. Contudo Jesus não renuncia ao propósito de anunciar ao mundo, sem restrições, o projeto de Pai, de libertar o mundo de toda opressão e promover a vida plena para todos. Jesus, então, fala aos discípulos sobre as provações que o aguardam em Jerusalém. Ë o chamado "anúncio da Paixão". Este "anúncio" pode ter dois sentidos. Na perspectiva messiânica é o sofrimento necessário redentor, de acordo com a tradição do Primeiro Testamento. Porém pode significar a comum prática repressora dos poderosos deste mundo que não toleram e procuram destruir todo aquele que promove a libertação do povo oprimido, tal como foi Jesus em toda sua vida. Mateus, em seu evangelho, faz um contraste. Pedro, ao identificar Jesus com o Cristo, tinha uma revelação de Deus, era proclamado como pedra da Igreja, a as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela (cf. 7 ago.). Agora, ao rejeitar o confronto de Jesus em Jerusalém, não tem a compreensão das coisas de Deus, é pedra de tropeço, e satanás. Jesus convida os discípulos a consagrarem sua vida à causa da justiça e da vida. Seduzidos pelo chamado de Jesus, empenham-se em renovar as estruturas deste mundo conformando-o a tudo que é bom, justo, e agradável a Deus.

APROFUNDANDO NA PALAVRA: O caminho da cruz
A 1ª leitura é um trecho das "confissões", amarguradas e dolorosas, de Jeremias, por causa da hostilidade que o profeta encontra no exercício do seu ministério. São textos característicos de Jeremias e muito importantes, porque estão na origem de uma tradição literária sobre o tema do profeta perseguido.
Um ministério incômodo
O ministério profético, sobretudo, não é uma vocação à tranquilidade: é incômodo para quem fala e para quem ouve. Jeremias desejaria subtrair-se à ingrata tarefa, mas a palavra de Deus queima-o por dentro com tal veemência, que não pode contê-la. Sua alma é terreno de batalha, onde se batem forças dificilmente conciliáveis entre si: Deus, o mundo, a busca de si mesmo. Só resta ao profeta uma possibilidade: deixar-se seduzir por seu Senhor.
Diferente é a atitude de Jesus. Para ele, o sofrimento, a paixão e a morte não são um escândalo; são, ao contrário, de certo modo, uma consequência da situação de pecado do homem. A morte é a "sua hora" que se aproxima. É necessário que vá a Jerusalém e sofra muito por parte dos anciãos e dos sumos sacerdotes. Nas palavras de Jesus, o sofrimento e a morte não são simples previsões de um fato, baseadas nas circunstâncias (recusa por parte dos chefes do povo); são algo que "deve" vir, um momento especial e determinante já prefigurado e prenunciado pelos profetas no plano salvífico de Deus.
Com estas afirmações, Jesus se afasta completamente das concepções messiânicas comuns do seu tempo, partilhadas também por seus discípulos. Não é um messias político, nem um simples profeta, embora seja o enviado para dar sua vida. É sintomática a reação de Pedro a esta revelação de Jesus; ele que, inspirado pelo Espírito, havia confessado a missão messiânica e a filiação divina de Cristo, rejeita categoricamente - e é repreendido - a imagem de um messias sofredor, de um servo crucificado.
O único caminho para realizar o profundo valor do homem
A renúncia à própria vida e o sofrimento, porém, não são vistos pelo evangelho como uma necessidade à qual nos resignamos nem como uma heróica, mas desesperada oblação à morte. São consideradas, antes, como o caminho para pôr em relevo o profundo valor do ser humano. As palavras de Jesus nos colocam diante de dois modos diferentes de conceber a vida: um, que raciocina segundo a "carne e o sangue", e outro que vê as coisas e os acontecimentos com os olhos de Deus.
Duas mentalidades opostas
Há quem espere a salvação do sucesso terreno, das coisas, de "ganhar o mundo inteiro", e, portanto, organize sua vida e sua atividade neste sentido; e há quem espere a salvação das mãos de Deus e a ele se entregue totalmente, vivendo na fidelidade à sua palavra e a seu chamado, embora aos olhos do mundo esteja "perdendo sua vida" e indo ao encontro do fracasso. As duas mentalidades não dividem os homens em duas categorias opostas; podem conviver dentro da mesma pessoa: em Pedro, por exemplo, que está pronto para confessar Jesus messias e filho do Deus vivo, e imediatamente depois se toma "satanás", porque procura afastar Jesus de sua missão e da vontade de Deus. Há também outro modo de trair a palavra de Jesus: é aceitá-la no plano teórico ou da afirmação verbal e depois desmenti-la precisamente na práxis e na vida. Quantas vezes ouvimos e repetimos sem hesitação as tão exigentes e comprometedoras afirmações de Jesus: "Se alguém quer vir após mim, tome a sua cruz...
"Quem quer salvar sua vida perdê-la-á. "De que serve ganhar o mundo inteiro"? Às explosivas afirmações evangélicas, opomos continuamente as barreiras de nosso comodismo e da falta de vontade de conversão, esvaziamo-las de sua radicalidade, reduzimo-las a slogans, a maneiras de falar paradoxais, mas inócuas.
A técnica do compromisso
São típicos de certos cristãos alguns comportamentos e atitudes, individuais e comunitários, em que a política prevalece sobre o evangelho, e o "modo de raciocinar conforme os homens" vence o "modo de raciocinar conforme Deus". Segundo certos cristãos, acostumados a condescender com tudo, pode-se celebrar a eucaristia, anúncio da morte e ressurreição de Cristo, sem entrar em comunhão com Cristo e com os irmãos; pode-se confessar (a metanóia, a mudança radical de lógica e de comportamento!) sem se converter; poderíamos julgar-nos cristãos e aceitar só uma parte de Cristo?

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