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sábado, 24 de setembro de 2011

Liturgia do 26º DTC - Ano A


26º DTC - Ano A - Dia 25/09/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: Quando o ímpio se arrepende da maldade que praticou, conserva a própria vida
Leitura da Profecia de Ezequiel 18,25-28: Assim diz o Senhor: 25 Vós andais dizendo: 'A conduta do Senhor não é correta'. Ouvi, vós da casa de Israel: É a minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta? 26 Quando um justo se desvia da justiça, pratica o mal e morre, é por causa do mal praticado que ele morre. 27 Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida. 28 Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá; não morrerá.” Palavra do Senhor! - Graças a Deus!

Comentário: Será que eu tenho prazer na morte do ímpio?
Ezequiel fala ao grupo dos exilados que está na Babilônia. Por que foram exilados? A idéia de moral grupal dizia que uma geração acaba pagando pelos erros de gerações anteriores. Nesse modo de pensar os exilados estariam fatalmente pagando pelo acúmulo de erros antepassados. O profeta, porém, vai contra essa concepção, e demonstra o seguinte: Cada pessoa e cada geração é responsável por sua conduta, tanto em nível individual como coletivo. Cada pessoa e geração tem a possibilidade de se converter, mudando completamente a orientação da própria vida. Ezequiel não nega que uma geração possa sofrer conseqüências de atos da geração anterior. Embora a culpa seja das gerações anteriores, aquela que sofre as conseqüências deverá tomar posição e mudar o rumo dos acontecimentos. Ezequiel levanta um problema candente: o problema da responsabilidade em lace do pecado e do sofrimento que dele resulta. Existe certamente um pecado coletivo: a Bíblia fala especialmente do pecado do povo. Jesus é "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). O mal da humanidade é considerado como uma só e enorme pecaminosidade. Mas o profeta acautela contra o perigo que se pode esconder nesta visão: o risco de lançar sobre a coletividade ou sobre Deus toda a responsabilidade, ficando surdo a todo apelo à conversão individual; o risco de esquecer que a luta profunda entre o bem e o mal se trava no coração do homem. Afirmam os bispos latino-americanos que, no contexto de injustiça institucionalizada que gera uma "situação de pecado social", "não teremos um continente novo sem novas estruturas, mas sobretudo não existirá ali um continente novo sem homens novos que, à luz do Evangelho, saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis".

Salmo Responsorial - Sl 24,4bc-5.6-7.8-9 (R. 6a)
R. Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e compaixão!
4b Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos 4c e fazei-me conhecer a vossa estrada! 5 Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação; em vós espero, ó Senhor, todos os dias!    (R)
6 Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e vossa compaixão que são eternas! 7 Não recordeis os meus pecados quando jovem, nem vos lembreis de minhas faltas e delitos! De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia e sois bondade sem limites, ó Senhor! (R)
8 O Senhor é piedade e retidão, e reconduz ao bom caminho os pecadores. 9 Ele dirige os humildes na justiça e aos pobres ele ensina o seu caminho. (R)

Comentário: Do pecado à conversão
Súplica em estilo de reflexão sapiencial
Este salmo mostra que a situação é obscura. O salmista pede que Deus lhe abra novas perspectivas. Pede também que seus erros involuntários não sejam empecilho para que Deus o trate com amor na situação angustiante em que se encontra. Não está claro qual seja a falta ou pecado. Em todo caso, é ocasião para uma tomada de consciência e conversão. Para Deus não importa o pecado, e sim, que o cristão se arrependa de seus pecados e se converta.

Segunda Leitura: Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus
Leitura da Carta de São Paulo aos Filipenses 2,1-11: Irmãos, 1 se existe consolação na vida em Cristo, se existe alento no mútuo amor, se existe comunhão no Espírito, se existe ternura e compaixão, 2 tornai então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade. 3 Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante 4 e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. 5 Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. 6 Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7 mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8 humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome. 10 Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11 e toda língua proclame: "Jesus Cristo é o Senhor", para a glória de Deus Pai. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O Evangelho autêntico
Paulo convida a comunidade a evitar as divisões causadas pelo espírito de competição, pelo desejo de receber elogios e pela busca dos próprios interesses. Tais vícios denotam o fechamento egoísta e a autopromoção à custa dos outros. A comunidade deve zelar pela harmonia interna e, para isso, é necessário que haja humildade, cada um considerando os outros superiores a si, e que o empenho tenha sempre em vista o bem comum. Citando um hino conhecido, Paulo mostra qual é o Evangelho da cruz, o Evangelho autêntico, e apresenta em Cristo o modelo da humildade. Embora tivesse a mesma condição de Deus, Jesus apresentou entre os homens como simples homem. E mais: abriu mão de qualquer privilégio, tornando-se apenas homem que obedece a Deus e serve aos homens. Não bastasse isso, Jesus serviu até o fim, perdendo a honra ao morrer na cruz, como se fosse criminoso. Por Deus o ressuscitou e o colocou no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do universo e da história. Os cristãos são convidados a fazer o mesmo: abrir mão de todo e qualquer privilégio, até mesmo da boa fama, para pôr-se a serviço dos outros, até o fim.

Aclamação ao Evangelho Jo 10,27
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Minhas ovelhas escutam a minha voz, minha voz estão elas a escutar; eu conheço, então, minhas ovelhas, que me seguem, comigo a caminhar!     (R)

Evangelho: Arrependeu-se e foi. Os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vós no Reino do céu
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 21,28-32: Naquele tempo, disse Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: 28 "Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha!' 29 O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois mudou de opinião e foi. 30 O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O primeiro". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele".  Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Qual dos dois fez a vontade do pai?
O primeiro filho é figura dos pecadores públicos que se convertem à justiça anunciada por João Batista e por Jesus. O segundo filho é figura dos chefes do povo, que consideram justos e não se convertem. A parábola evangélica desmascara a liderança religiosa do tempo de Jesus, sempre pronta a criticar e a marginalizar os que eram considerados pecadores. Ela própria, no entanto, era incapaz de se submeter, adequadamente, à vontade de Deus. A atitude de um homem e de seus dois filhos é a metáfora do relacionamento do povo de Israel com Deus. O homem da parábola representa Deus. Este tem um projeto para seu povo, expresso no Decálogo, pelo qual cada israelita pautaria sua vida. Da obediência à vontade divina resultaria uma sociedade fraterna, sem excluídos, onde os mais fracos e pequeninos seriam mais dignos de apoio e atenção. A liderança religiosa corresponde ao filho que se predispõe a obedecer às ordens do pai, mas, de fato, se omite. Os mestres da Lei e os fariseus mostravam-se fiéis à vontade de Deus e externamente pareciam se esforçar por cumprir cada preceito da Lei, sem omitir um sequer. Chegavam até a ser minuciosos. Tudo, porém, puro exibicionismo, superficialidade, no intuito de granjear o louvor do povo. Uma piedade sem consistência! Os pecadores, identificados com os cobradores de impostos e as meretrizes, são representados pelo filho que se recusa a obedecer, mas acaba cumprindo a ordem paterna. Correspondem à categoria de pessoas que, aparentemente afastadas de Deus, no seu dia-a-dia buscam ser solidárias, estando sempre prontas para fazer um gesto de amor, numa expressão de fé em Deus. São estas as pessoas que fazem a vontade de Deus, e não as primeiras. O próprio João Batista, dirigindo-se a estes chefes, proclamara: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, então frutos de arrependimento e não penseis que basta dizer: 'Temos por pai a Abraão'"... (Mt 3,7b-9). É contundente e profundamente subversiva a sentença final de Jesus: "Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus". Porque os publicanos e as prostitutas acreditaram em João, mas os chefes de Israel, não. Os marginais acolhem Jesus e as elites o rejeitam. É a expressão de uma sociedade fundada em valores e estruturas equivocados. Suas elites se afirmam em torno do poder e do dinheiro e humilham, exploram e excluem os humildes, fracos, pequenos e pobres. Estes se unem em torno de Jesus que se fez igual a eles. Para Deus o essencial é a prática atual da justiça e do amor, independentemente do passado ou de pretensos direitos religiosos adquiridos.

APROFUNDANDO NA PALAVRA: Eles vos precederão no Reino de Deus
As três parábolas lidas nos evangelho deste e dos dois domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não quis escutar Jesus, e a sua substituição pelos pagãos.
Ninguém é marginalizado por Deus
A parábola dos dois filhos justifica a posição do Cristo diante dos “desprezados”, esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a parábola aos sumos sacerdotes e anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos fariseus (fariseu e publicano: Lc 18,9); replica a todos os que se escandalizam com sua predileção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma prostituta lhe lave os pés, protege a adúltera contra os “puros” que a queriam apedrejar.
Sua vida deixa a Deus a possibilidade de manifestar-se como verdadeiramente é. Estas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus. A parábola se dirige, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se consideram pagos por sua própria suficiência.
As prostitutas haviam dito “não”
A fidelidade a Deus e a justiça não se julgam pelo dizer “sim” ou pela vinha que se possui (figura da pertença racial ao povo eleito!), mas pelos fatos. Trata-se de eliminar as discriminações sociais que a tradição hebraica elaborou. O que importa não é agir como a tradição ensina. É necessário ter coragem de sujar as mãos e de se arriscar na busca de novos valores mais próximos da liberdade, do amor, da felicidade do homem. É pelas obras que se julga a pertença. “Nem todo que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7,21). As palavras, as ideologias podem enganar, podem ser uma ilusão. Descobre-se a verdade do homem por suas obras. Elas não dão margem a equívocos. Só então o homem mostra o que é. Compreendemos então aquela palavra de Jesus, que provoca escândalos aos ouvidos dos que se pretendem bons: “Em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus”. Oficialmente, conforme as categorias religiosas e os critérios morais exteriores da época, eles tinham dito “não”, mas de fato o que importa é sua profunda disponibilidade: a vontade de cumprir, não com palavras, mas com fatos, as obras de penitências.
Deus não decidiu, um dado momento da história, rejeitar Israel e adotar as nações pagãs. Foi o comportamento perante o Messias que os fez perder o papel que desempenhavam na ordem da mediação. O modo como viviam o seu “sim” à Lei os levou a dizer “não” ao evangelho.
Para além das práticas
Existe ainda uma concepção exterior e quantitativa da religiosidade dos grupos e das pessoas (como se só fosse possível medir a religiosidade pela pertença sociológica ou a presença a certas práticas religiosas facilmente verificáveis: missa, sacramentos, orações, devoções, esmolas...) Contribuem para provocar este equívoco certas pesquisas sócio-religiosas que codificam convencionalmente uma escala de religiosidade e de pertença eclesial que, se de certo ponto de vista obriga a abrir os olhos para situações penosas, de outro está bem longe de esgotar o complexo fenômeno da religiosidade, tanto de grupo como individual.
Para além da prática e da pertença exterior e jurídica, existe uma presença e um evidente influxo cristão e evangélico em camadas de populações aparentemente marginais e alheias.
A religião, como é vivida pelos cristãos, apresenta diversos níveis e modalidades de experiência. Pode ser vivida como uma soma de práticas, de devoções, de ritos, como fins em si mesmos; como uma visão do mundo e das coisas; como um critério de juízo sobre pessoas, valores, acontecimentos. Pode manifestar-se como código moral e norma de ação ou como integração fé-vida, isto é, como síntese no plano do juízo e da ação, entre a mensagem do evangelho e as exigências e os esforços da própria vida pessoal e comunitária.
O cristão opera a integração fé-vida. Isto é, o “sim” de sua fé se torna o “sim” de sua vida; a palavra e a confissão dos lábios se tornam ação e gesto das mãos. Assim, a discriminação entre o “sim” e o “não” não passa través das práticas e da observância das leis, mas através da vida.

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