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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Liturgia Dominical - 04/09/2011


23º DTC - Ano A - Dia 04/09/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: Se não advertires o ímpio, eu te pedirei contas da sua morte
Leitura da Profecia de Ezequiel 33,7-9: Assim diz o Senhor: 7 "Quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci como vigia para a casa de Israel. Logo que ouvires alguma palavra de minha boca, tu os deves advertir em meu nome. 8 Se eu disser ao ímpio que ele vai morrer, e tu não lhe falares, advertindo-o a respeito de sua conduta, o ímpio vai morrer por própria culpa, mas eu te pedirei contas da sua morte. 9 Mas, se advertires o ímpio a respeito de sua conduta, para que se arrependa, e ele não se arrepender, o ímpio morrerá por própria culpa, porém tu salvarás tua vida".   Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O ímpio morrerá por própria culpa
Ao iniciar uma nova etapa da sua atividade, Ezequiel recorda a missão do profera. O profeta é porta-voz da justiça de Deus. Isso o torna, por obrigação, um conscientizador do povo. A justiça de Deus quer que todos tenham chance de perceber o erro e se converter para a vida. Calando, o profeta se torna conivente com a injustiça e sofre dela as mesmas consequências.

Salmo Responsorial - Sl 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)
R. Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!
1 Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o rochedo que nos salva! 2 Ao seu encontro caminhemos com louvores, e com cantos de alegria o celebremos! (R)
6 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! 7 Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão. (R)
8 Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: "Não fecheis os corações como em Meriba, 9 como em Massa, no deserto, aquele dia, em que outrora vossos pais me provocaram, apesar de terem visto as minhas obras". (R)

Comentário: Escutem o que Deus fala
Oração de louvor, com advertência em estilo profético.
O motivo de louvor é o próprio Deus vivo que criou o mundo e está acima de todos os deuses das nações e seus projetos. Ele é o soberano do universo que criou o povo e se aliou a ele, dirigindo-o na história como pastor. É também uma advertência profética: Deus deu a terra ao povo. Seu usufruto, porém, depende da fidelidade ao projeto dele. Se a infidelidade dos antepassados impediu que eles entrassem na terra da liberdade e da vida, a infidelidade da geração atual poderá perdê-la. Por isso, devemos viver segundo o projeto que Deus tem para a nossa vida, pois, com certeza, Deus é sempre fiel e misericordioso com todos nós.

Segunda Leitura: O amor é o cumprimento perfeito da Lei
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 13,8-10: Irmãos, 8 não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei. 9 De fato, os mandamentos: "Não cometerás adultério", "Não matarás", "Não roubarás", "Não cobiçarás", e qualquer outro mandamento se resumem neste: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo". 10 O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da lei.  Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O amor é a plenitude da lei
Na vida cristã a única tarefa que não tem limites é o amor, pois ele não só resume tudo o que deve ser feito, mas é feito. Como nos evangelhos, Paulo também vê o amor como a expressão perfeita de toda a lei. Se nossa moral fosse reduzida a uma contabilidade, uma reflexão sobre esta página bastaria para desequilibrar o balanço. As contas não voltam mais. Tudo se reduz à unidade, para além das complicações casuísticas: ou se ama ou se está no pecado. O amor não se define, vive-se. Importa amar para ver claro. E se quisermos que algum outro veja claro, a única estratégia eficiente é amá-lo sem condições, “como a nós mesmos”. Deus é aquele que ama primeiro; ama-nos antes de nós mesmos.

Aclamação ao Evangelho 2Cor 5,19
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. O Senhor reconciliou o mundo em Cristo, confiando-nos sua Palavra; a Palavra da reconciliação, a Palavra que hoje, aqui, nos salva.    (R)

Evangelho: Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 18,15-20: Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 15 se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. 16 Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. 17 Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público. 18 Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu. 19 De novo, eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isto vos será concedido por meu Pai que está nos céus. 20 Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estou ali, no meio deles".  Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Correção fraterna
Quando um irmão peca, prejudicando o bem comum, a comunidade age com prudência e justiça, procurando corrigir o irmão. Reunida em nome e no espírito de Jesus, a comunidade tem o poder de incluir ou excluir pessoas do seu meio, isto é, incluir ou excluir pessoas. A missão dela, porém, não termina com a exclusão do pecador: ela deve procurá-lo, como o pastor que sai em busca da ovelha perdida. Ninguém está isento do pecado. Mas, se alguém erra, não pode ser punido impiedosamente e ser excluído da comunidade, sem a devida ponderação. Havia, nas primeiras comunidades cristãs, uma tendência a resolver, com uma certa dose de leviandade, os casos de desvio da fé. Os pequeninos eram as primeiras vítimas desta intransigência. Deve-se percorrer um longo caminho, antes de se tomar a decisão de afastar da comunidade alguém que errou. O primeiro passo consiste em ser advertido, a sós, por quem se sente ofendido. Isto pode ser suficiente para que a pessoa refaça sua conduta. Pode, entretanto, acontecer de a pessoa não se deixar tocar, e persistir no erro. O passo seguinte consistirá em convocar as testemunhas previstas pela Lei mosaica e, diante delas, admoestar quem pecou, tentando demovê-lo de sua má conduta. Talvez, ele se deixe convencer e se converta. Também esta iniciativa pode resultar inútil. Só então a comunidade toda, neste caso, deve ser convocada para discernir, com muita responsabilidade, se a melhor decisão consiste em afastar o pecador de seu meio. Jesus, porém, cuida para que a reunião da comunidade não se transforme numa espécie de tribunal. Antes, que busque descobrir o desígnio do Pai a este respeito. A certeza da presença do Filho de Deus visa garantir a justiça num assunto tão fundamental. A vida comunitária, reunindo pessoas de temperamentos, valores, e costumes diversos comporta sempre desencontros e conflitos, que ameaçam a sua unidade. A busca de superação dos conflitos na comunidade não é exclusiva dos cristãos. Mesmo entre comunidades gregas e romanas haviam normas e regras de procedimento em vista desta superação. No caso de uma ofensa pessoal, entre dois membros da comunidade, Mateus apresenta uma regra em três etapas: primeiro uma correção fraterna do ofendido ao ofensor; caso este não a aceite, recorrer ao testemunho de duas ou três pessoas, e se ainda o ofensor resistir à correção, recorre-se à igreja, ou seja, à comunidade. A última providência, caso o ofensor persista em sua posição, é a exclusão, sendo "tratado como se fosse um pagão ou um publicano". Esta etapa final, na regra de Mateus, causa certa estranheza, uma vez que Jesus sempre esteve próximo dos gentios e publicanos, procurando integrá-los no seu convívio comunitário. O reconhecimento do conflito e da ofensa se faz, acima de tudo, em vista de sensibilizar o ofensor e, em plena misericórdia, procurar sua mudança de atitudes, garantindo sua inserção na comunidade. Lucas, em seu evangelho (17,1-2), apresenta a correção de maneira simples: "Se teu irmão pecar, repreende-o e se ele se arrepender, perdoa-lhe. E caso ele peque contra ti sete vezes por dia, sete vezes retornar, dizendo 'Estou arrependido", tu lhe perdoarás". Em continuidade ao texto de Mateus, temos a prática mais característica das comunidades de discípulos de Jesus: a oração em comum ao Pai dos céus. A presença de Jesus, filho de Deus, entre os discípulos tem um sentido especial no momento em que não mais existe o Templo (destruído pelos romanos no ano 70) onde se pretendia ter a presença de Deus. E as próprias sinagogas estão dispensadas no momento em que os discípulos se "reúnem" em torno de Jesus, palavra viva de Deus. A presença de Deus se dá na comunidade misericordiosa e inclusiva, comprometida com a acolhida, a reconciliação e o perdão, mantendo sua comunhão com o próprio Jesus presente em seu meio. "O amor é o cumprimento perfeito da Lei".

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Liturgia do dia 31 de Agosto de 2011


Quarta-Feira da 22ª STC - Ano A - Dia 31/08/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: A palavra de verdade chegou até vós, como no mundo inteiro
Início da Carta de São Paulo aos Colossenses 1,1-8: 1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus e o irmão Timóteo, 2 aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossas: graça e paz da parte de Deus nosso Pai. 3 Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, sempre rezando por vós, 4 pois ouvimos acerca da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que mostrais para com todos os santos, 5 animados pela esperança na posse do céu. Disso já ouvistes falar no evangelho, cuja palavra de verdade chegou até vós. 6 E como no mundo inteiro, assim também entre vós ela está produzindo frutos e se desenvolve desde o dia em que ouvistes a graça divina e conhecestes verdadeiramente. 7 Assim aprendestes de Epafras, nosso estimado companheiro, que é junto de vós um autêntico mensageiro de Cristo. 8 Foi ele quem nos deu notícia sobre o amor que o Espírito suscitou em vós.  Palavra do Senhor! - Graças a Deus!

Comentário: A palavra de verdade chegou até vós
O clima da vida cristã deve ser o de uma família, onde todos são irmãos junto com Cristo, tendo Deus como Pai. A trilogia fé-amor-esperança define a vida cristã na sua base, na sua concretização prática e no seu dinamismo histórico. A vida cristã nasce do compromisso de fé em Jesus Cristo, que significa aceitar a vida e a ação de Jesus e continuá-las entre os homens. O amor é a realização prática desse testemunho, através da partilha dos bens e da fraternidade, que concretizam o Reino de Deus no dia-a-dia da história. A esperança é o dinamismo que nasce do amor, alimentando a vida cristã, voltada para o futuro do Reino de Deus, isto é, para a realização plena da vida. Uma comunidade cristã vive a vida de todos os dias com disponibilidade interior de confiança e esperança para o amor de Cristo, encara a vida e o mundo com amor reconciliado. Às vezes nos perguntamos como reconhecer hoje e como viver sinais de ressurreição, anunciadores de um mundo novo. Tais sinais não são a grande luz, o grande milagre ou o grande gesto, mas sim o reino que nasce cada dia, como a sementinha que cai e morre, e frutifica. Quem quer que observe com olhar transparente uma comunidade que vive de fé, esperança e caridade, descobre nela aquilo que transforma e anuncia a presença ativa do Cristo ressuscitado.

Salmo Responsorial - Sl 51(52),10.11      (R. 10b)
R. Confio na clemência do meu Deus, agora e sempre!
10 Eu, porém, como oliveira verdejante na casa do Senhor, confio na clemência do meu Deus agora e para sempre!    (R)
11 Louvarei a vossa graça eternamente, porque vós assim agistes; espero em vosso nome, porque é bom, perante os vossos santos!  (R)

Comentário: Julgamento do injusto
Oração em estilo profético, contra os injustos que dominam o povo com palavras falsas (cf. Salmo 12)
Descrição viva do injusto: ele é inimigo mortal do justo, contra quem o tempo todo maquina armadilhas. A arma favorita é a difamação, que produz fraude e mentira. A derrota do injusto é motivo de triunfo e alegria para os justos antes oprimidos. Causa dessa derrota é a auto-suficiência, que acumula poder e riqueza para a própria destruição. Em contraste com o injusto, que é arrancado do seu solo, o justo se desenvolve como árvore. Bondade de Deus, em primeiro lugar, é a justiça que liberta o oprimido.

Aclamação ao Evangelho Lc 4,18
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. O Espírito do Senhor repousa sobre mim e enviou-me a anunciar aos pobres o Evangelho.    (R)

Evangelho: Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 4,38-44: Naquele tempo, 38 Jesus saiu da sinagoga e entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava sofrendo com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39 Inclinando-se sobre ela, Jesus ameaçou a febre, e a febre a deixou. Imediatamente, ela se levantou e começou a servi-los. 40 Ao pôr-do-sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levaram a Jesus. Jesus colocava as mãos em cada um deles e os curava. 41 De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: "Tu és o Filho de Deus". Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o messias. 42 Ao raiar do dia, Jesus saiu e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam e, indo até ele, tentavam impedi-lo que os deixasse. 43 Mas Jesus disse: "Eu devo anunciar a boa nova do reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado". 44 E pregava nas sinagogas da Judéia.  Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Missionário incansável
Para os antigos, a febre era de origem demoníaca. Libertos do demônio, os homens podem levantar-se e pôr-se a serviço. Os demônios reconhecem quem é Jesus, porque sentem que a ação dele ameaça o domínio que eles têm sobre o homem. A Boa Notícia do Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam os homens. Para anunciá-la, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem. Por onde passava, Jesus deixava as pegadas do Reino acontecendo na história humana. As inúmeras curas e a vitória sobre o poder demoníaco eram as demonstrações mais evidentes da novidade acontecendo na vida das pessoas. A expulsão dos demônios consistia em fazer com que Deus, novamente, fosse o único Senhor delas. Portanto, a ação de Jesus visava sempre restabelecer o senhorio de Deus. E isso deixava feliz a quem se beneficiava de sua presença libertadora! Os benefícios recebidos através dos gestos misericordiosos de Jesus impelia o povo a querer retê-lo junto de si e a não deixá-lo seguir adiante. O Mestre opôs-se à esta tentativa de limitar seu campo de missão. Ele manifestava sua consciência de ter sido enviado para evangelizar não apenas um grupo restrito de pessoas. Sua missão de proclamar a Boa Nova do Reino deveria alargar-se mais e mais, de modo a estender o senhorio de Deus a todo ser humano. Por outro lado, o afluxo de pessoas e a quantidade de gente a ser curada não constituíam argumento para que Jesus se detivesse num só lugar. Ele ia ao encontro dos necessitados, lá onde se encontravam. Seu peregrinar incansável não conhecia limites. A sinagoga é abandonada por Jesus, que transforma a "casa" no lugar de articulação das novas comunidades. Na "casa" a mulher, personificada na sogra de Simão, é valorizada na sua prática do serviço, que é a característica fundamental do Reino. A cena narrada se passa em um sábado, dia do culto na sinagoga. Neste dia todo trabalho cessava, e só era permitido caminhar-se uma curta distância. Ao pôr-do-sol termina o dia do sábado, começando o primeiro dia da semana. O povo, liberado das restrições legais, acorre a Jesus, que os curava. Nas culturas antigas, muitas doenças físicas e mentais eram atribuídas a um ser imaginário, o demônio. Jesus, na sua prática, vai revelando que os males da humanidade resultam, principalmente, do poder opressor.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Liturgia Dominical - 28/08/2011


22º DTC - Ano A - Dia 28/08/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: A palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha
Leitura do Livro do Profeta Jeremias 20,7-9: 7 Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos zombam de mim. 8 Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade e invocando calamidades; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. 9 Disse comigo: "Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele". Senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: A voz de Deus é mais forte e abrasadora
É a quinta confissão de Jeremias. O texto mostra o íntimo de alguém que se entregou à missão profética: primeiro, o profeta se sente contrariado por uma missão que ele não escolheu, mas para a qual Deus o destinou; em segundo lugar, nos momentos difíceis, o profeta tem lampejos de confiança, ao perceber que Deus está a seu lado, amparando-o com sua presença e força; por fim, forçado por circunstâncias difíceis, ele chega ao desespero, preferindo até mesmo não ter nascido.

Salmo Responsorial - Sl 62(63),2.3-4.5-6.8-9     (R. 2b)
R. A minh'alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus!
2 Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minh’alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água! (R)
3 Venho, assim, contemplar-vos no templo, para ver vossa glória e poder. 4 Vosso amor vale mais do que a vida: e por isso meus lábios vos louvam. (R)
5 Quero, pois, vos louvar pela vida, e elevar para vós minhas mãos! 6 A minh’alma será saciada, como em grande banquete de festa; cantará a alegria em meus lábios, ao cantar para vós meu louvor! (R)
8 Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! 9 Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta. (R)

Comentário: O amor de Deus dá sentido à vida
Súplica de um levita exilado
Longe do Templo, onde se manifesta a presença do Deus da Aliança, o levita se sente privado do seu elemento vital. Na esperança de voltar um dia a participar do louvor e banquetes rituais, o salmista reconhece que o amor de Deus vale mais do que a vida. Esta só tem sentido quando movida por esse amor. Lembrança de Deus, no silêncio da noite. Mesmo longe do Templo e da terra prometida, o exilado sente a presença de Deus que lhe sustenta o ânimo. Trata-se de uma presença muito especial: a ausência sentida.

Segunda Leitura: Oferecei-vos em sacrifício vivo
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 12,1-2: 1 Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. 2 Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é,o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O culto autêntico
A vida cristã é resposta à misericórdia de Deus e abrange toda a existência concreta do homem, representada pelo corpo como centro de vida e ação e de relação com Deus, com os homens e com o mundo. Cada cristão oferece a si mesmo, sendo ele próprio o sacerdote e o sacrifício vivo. Tal sacerdócio é exercido de modo prático através do não-conformismo, que critica as estruturas corrompidas pela injustiça, e através de discernimento novo, que sabe distinguir a vontade de Deus que leva à justiça e à vida.

Aclamação ao Evangelho Ef 1,17-18
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Que o Pai do Senhor Jesus Cristo nos dê do saber o espírito; conheçamos, assim, a esperança à qual nos chamou, como herança!     (R)

Evangelho: Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo
Proclamação ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,21-27: Naquele tempo, 21 Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir à Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia. 22 Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!" 23 Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: "Vai para longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!" 24 Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 25 Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. 26 De fato, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro mas perder a sua vida? Que poderá alguém dar em troca de sua vida? 27 Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta.   Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: A feliz recompensa
A pergunta de Jesus força os discípulos a fazer uma revisão de tudo o que ele realizou no meio do povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus. Os discípulos, porém, que acompanham e vêem tudo o que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é o Messias. A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Por isso, essa sociedade vai matar Jesus, antes que ele a destrua. Mas os discípulos imaginam um messias glorioso e triunfante. Pedro é estabelecido como o fundamento da comunidade que Jesus está organizando e que deverá continuar no futuro. Jesus concede a Pedro o exercício da autoridade sobre essa comunidade, autoridade de ensinar e de excluir ou introduzir os homens nela. Para que Pedro possa exercer tal função, a condição fundamental é ele admitir que Jesus não é messias triunfalista e nacionalista, mas o Messias que sofrerá e morrerá na mão das autoridades do seu tempo. Caso contrário, ele deixa de ser Pedro para ser Satanás. Pedro será verdadeiro chefe, se estiver convicto de que os princípios que regem a comunidade de Jesus são totalmente diferentes daqueles em que se baseiam as autoridades religiosas do seu tempo. A morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quer seguir a Jesus esteja disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). Jesus vinha exercendo seu ministério na Galiléia, onde se misturavam gentios e colônias judaicas, e nas regiões gentílicas vizinhas. Agora, tendo chegado bem ao norte, em Cesaréia de Filipe, como que dando por encerrado seu ministério nestas regiões, Jesus toma a decisão de voltar ao sul e, atravessando a Galiléia, seguir o caminho de Jerusalém. Nesta nova etapa de seu ministério, Jesus decide fazer seu anúncio libertador e vivificante diretamente entre as multidões de fieis do judaísmo que acorriam a Jerusalém, para atenderem ao preceito religioso de cumprir o dever de celebrar a Páscoa. Esta era a principal festa religiosa da tradição de Israel, e era a ocasião de todos os fieis, particularmente os que moravam em regiões mais distantes, trouxessem suas ofertas e dízimos anuais ao Templo. Jesus tinha consciência de que os chefes das sinagogas e do Templo de Jerusalém tinham a intenção de, em algum momento oportuno, matá-lo. A pregação e a prática libertadora de Jesus suscitara o ódio destes chefes, que tinham garantidos sua autoridade e seu poder a partir da Lei opressora, elaborada ao longo da tradição de Israel. Agora, a ida a Jerusalém poderia ser fatal. Contudo Jesus não renuncia ao propósito de anunciar ao mundo, sem restrições, o projeto de Pai, de libertar o mundo de toda opressão e promover a vida plena para todos. Jesus, então, fala aos discípulos sobre as provações que o aguardam em Jerusalém. Ë o chamado "anúncio da Paixão". Este "anúncio" pode ter dois sentidos. Na perspectiva messiânica é o sofrimento necessário redentor, de acordo com a tradição do Primeiro Testamento. Porém pode significar a comum prática repressora dos poderosos deste mundo que não toleram e procuram destruir todo aquele que promove a libertação do povo oprimido, tal como foi Jesus em toda sua vida. Mateus, em seu evangelho, faz um contraste. Pedro, ao identificar Jesus com o Cristo, tinha uma revelação de Deus, era proclamado como pedra da Igreja, a as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela (cf. 7 ago.). Agora, ao rejeitar o confronto de Jesus em Jerusalém, não tem a compreensão das coisas de Deus, é pedra de tropeço, e satanás. Jesus convida os discípulos a consagrarem sua vida à causa da justiça e da vida. Seduzidos pelo chamado de Jesus, empenham-se em renovar as estruturas deste mundo conformando-o a tudo que é bom, justo, e agradável a Deus.

APROFUNDANDO NA PALAVRA: O caminho da cruz
A 1ª leitura é um trecho das "confissões", amarguradas e dolorosas, de Jeremias, por causa da hostilidade que o profeta encontra no exercício do seu ministério. São textos característicos de Jeremias e muito importantes, porque estão na origem de uma tradição literária sobre o tema do profeta perseguido.
Um ministério incômodo
O ministério profético, sobretudo, não é uma vocação à tranquilidade: é incômodo para quem fala e para quem ouve. Jeremias desejaria subtrair-se à ingrata tarefa, mas a palavra de Deus queima-o por dentro com tal veemência, que não pode contê-la. Sua alma é terreno de batalha, onde se batem forças dificilmente conciliáveis entre si: Deus, o mundo, a busca de si mesmo. Só resta ao profeta uma possibilidade: deixar-se seduzir por seu Senhor.
Diferente é a atitude de Jesus. Para ele, o sofrimento, a paixão e a morte não são um escândalo; são, ao contrário, de certo modo, uma consequência da situação de pecado do homem. A morte é a "sua hora" que se aproxima. É necessário que vá a Jerusalém e sofra muito por parte dos anciãos e dos sumos sacerdotes. Nas palavras de Jesus, o sofrimento e a morte não são simples previsões de um fato, baseadas nas circunstâncias (recusa por parte dos chefes do povo); são algo que "deve" vir, um momento especial e determinante já prefigurado e prenunciado pelos profetas no plano salvífico de Deus.
Com estas afirmações, Jesus se afasta completamente das concepções messiânicas comuns do seu tempo, partilhadas também por seus discípulos. Não é um messias político, nem um simples profeta, embora seja o enviado para dar sua vida. É sintomática a reação de Pedro a esta revelação de Jesus; ele que, inspirado pelo Espírito, havia confessado a missão messiânica e a filiação divina de Cristo, rejeita categoricamente - e é repreendido - a imagem de um messias sofredor, de um servo crucificado.
O único caminho para realizar o profundo valor do homem
A renúncia à própria vida e o sofrimento, porém, não são vistos pelo evangelho como uma necessidade à qual nos resignamos nem como uma heróica, mas desesperada oblação à morte. São consideradas, antes, como o caminho para pôr em relevo o profundo valor do ser humano. As palavras de Jesus nos colocam diante de dois modos diferentes de conceber a vida: um, que raciocina segundo a "carne e o sangue", e outro que vê as coisas e os acontecimentos com os olhos de Deus.
Duas mentalidades opostas
Há quem espere a salvação do sucesso terreno, das coisas, de "ganhar o mundo inteiro", e, portanto, organize sua vida e sua atividade neste sentido; e há quem espere a salvação das mãos de Deus e a ele se entregue totalmente, vivendo na fidelidade à sua palavra e a seu chamado, embora aos olhos do mundo esteja "perdendo sua vida" e indo ao encontro do fracasso. As duas mentalidades não dividem os homens em duas categorias opostas; podem conviver dentro da mesma pessoa: em Pedro, por exemplo, que está pronto para confessar Jesus messias e filho do Deus vivo, e imediatamente depois se toma "satanás", porque procura afastar Jesus de sua missão e da vontade de Deus. Há também outro modo de trair a palavra de Jesus: é aceitá-la no plano teórico ou da afirmação verbal e depois desmenti-la precisamente na práxis e na vida. Quantas vezes ouvimos e repetimos sem hesitação as tão exigentes e comprometedoras afirmações de Jesus: "Se alguém quer vir após mim, tome a sua cruz...
"Quem quer salvar sua vida perdê-la-á. "De que serve ganhar o mundo inteiro"? Às explosivas afirmações evangélicas, opomos continuamente as barreiras de nosso comodismo e da falta de vontade de conversão, esvaziamo-las de sua radicalidade, reduzimo-las a slogans, a maneiras de falar paradoxais, mas inócuas.
A técnica do compromisso
São típicos de certos cristãos alguns comportamentos e atitudes, individuais e comunitários, em que a política prevalece sobre o evangelho, e o "modo de raciocinar conforme os homens" vence o "modo de raciocinar conforme Deus". Segundo certos cristãos, acostumados a condescender com tudo, pode-se celebrar a eucaristia, anúncio da morte e ressurreição de Cristo, sem entrar em comunhão com Cristo e com os irmãos; pode-se confessar (a metanóia, a mudança radical de lógica e de comportamento!) sem se converter; poderíamos julgar-nos cristãos e aceitar só uma parte de Cristo?