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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Liturgia Dominical


27º DTC - Ano A – Dia: 02/10/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel
Leitura do Livro do Profeta Isaías 5,1-7: 1 Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu: Um amigo meu possuía uma vinha em fértil encosta. 2 Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videiras escolhidas, edificou uma torre no meio e construiu um lagar; esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens. 3 Agora, habitantes de Jerusalém e cidadãos de Judá, julgai a minha situação e a de minha vinha. 4 O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz? Eu contava com uvas de verdade, mas por que produziu ela uvas selvagens? 5 Pois agora vou mostrar-vos o que farei com minha vinha: vou desmanchar a cerca, e ela será devastada; vou derrubar o muro, e ela será pisoteada. 6 Vou deixá-la inculta e selvagem: ela não será podada nem lavrada, espinhos e sarças tomarão conta dela; não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela. 7 Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça - e eis a injustiça; esperava obras de bondade - e eis a iniquidade. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: Julguem vocês mesmos
O dono da vinha fez de tudo para que ela produzisse uvas boas, como ela produziu só uvas azedas, seu dono abandonou-a. Deus fez de tudo para que seu povo vivesse o direito e a justiça; mas o povo só produziu violação do direito e injustiça. O cerne do cântico é o v. 3: o próprio povo é quem deve julgar a situação e dar a sentença.

Salmo Responsorial - Sl 79(80),9 e 12.13-14.15-16.19-20 (R. Is 5,7a)
R. A vinha do Senhor é a casa de Israel.
9 Arrancastes do Egito esta videira, e expulsastes as nações para plantá-la; 12 até o mar se estenderam seus sarmentos, até o rio os seus rebentos se espalharam.   (R)
13 Por que razão vós destruístes sua cerca, para que todos os passantes a vindimem, 14 o javali da mata virgem a devaste, e os animais do descampado nela pastem?   (R)
15 Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a! 16 Foi a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao rebento que firmastes!  (R)
19 E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome! 20 Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!  (R)

Comentário: Deus restaura o seu povo
Oração coletiva de súplica, por ocasião de uma invasão inimiga
Este salmo nos mostra que Israel e José representam o reino do Norte, do qual se mencionam três tribos. Trata-se de uma súplica, talvez motivada pela invasão assíria, que destruiu o reino de Israel em 722 a.C. Os versículos 13-19 contém súplicas repetidas, apresentando o motivo para Deus agir: trata-se da tua videira, da tua vinha. A situação difícil é também momento para tomada de consciência e conversão.

Segunda Leitura: Praticai o que aprendestes, e o Deus da paz estará convosco
Leitura da Carta de São Paulo aos Filipenses 4,6-9: Irmãos: 6 Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. 7 E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus. 8 Quanto ao mais, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor. 9 Praticai o que aprendestes e recebestes de mim, ou que de mim vistes e ouvistes. Assim, o Deus da paz estará convosco. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: Praticai o que aprendestes, e o Deus da paz estará convosco
A alegria cristã se baseia na salvação obtida por Cristo, e é testemunhada sobretudo pela bondade que se irradia para todos e pela tranquila confiança em Deus. Os cristãos devem ser fiéis ao que aprenderam dos seus evangelizadores, mas também precisam estar abertos a todas as coisas sadias que encontram na sociedade.

Aclamação ao Evangelho Cf. Jo 15,16
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Eu vos escolhi, foi do meio do mundo, a fim de que deis um fruto que dure. Eu vos escolhi, foi do meio do mundo. Amém! Aleluia, Aleluia!     (R)

Evangelho: Arrendou a vinha a outros vinhateiros
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 21,33-43: Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: 33 "Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. 34 Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35 Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. 36 O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. 37 Finalmente, o proprietário, enviou-lhes o seu filho, pensando: 'Ao meu filho eles vão respeitar'. 38 Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!' 39 Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. 40 Pois bem, quando o dono da vinha voltar, que fará com esses vinhateiros?" 41 Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo". 42 Então Jesus lhes disse: "Vós nunca lestes nas Escrituras: 'A pedra que os construtores rejeitaram tomou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?" 43 Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos.  Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Quando se age de forma insensata
Jesus passa ao ataque. A figueira não dá frutos, e o Templo tornou-se lugar de roubo, porque as autoridades (chefes dos sacerdotes, doutores da Lei, anciãos do Sinédrio) exploram e oprimem, apoderando-se daquilo que pertence a Deus, isto é, o povo da aliança (vinha). Depois de muitos profetas que pregavam a justiça (empregados), Deus envia o próprio Filho com o Reino. A rejeição e morte do Filho trazem a sentença: o povo de Deus, agora congregado em torno de Jesus (pedra), passa a outros chefes, que não devem tomar posse, mas servir. Mateus salienta a formação de um novo povo de Deus, formado agora não por uma nação particular, mas por todos aqueles que acreditam, comprometendo-se com Jesus. A relação entre Jesus e a liderança judaica de sua época foi muito tensa e problemática. O Mestre se dava conta da profunda rejeição de que era vítima. Percebia que seus adversários opunham-se à sua pregação. Diante disto, era inútil esperar deles uma mudança de mentalidade que os direcionasse para o Reino. Jesus questionou a indisposição dos sacerdotes e dos anciãos do povo contra ele. A parábola da vinha mostra que eles herdaram uma mentalidade muito antiga em Israel. Há muito tempo, Deus vinha esperando de seu povo atitudes compatíveis com sua fé. Os servos, enviados para receberem o lucro devido aludem aos que, ao longo dos tempos, tinham vindo em nome de Deus, para conclamar o povo para a conversão e exigir uma mudança radical de vida. Contudo, foram rejeitados. O envio do filho, identificado com Jesus, foi a última tentativa por parte do dono da vinha. O fato de ser o herdeiro da vinha teve seu peso: também ele foi assassinado. A recusa resultou em aniquilação dos primeiros arrendatários e a cessão da vinha a outro povo que a fizesse frutificar. A insensatez dos líderes do tempo de Jesus custou-lhes caro. Eles não perceberam que era preciso agir logo e dar frutos, antes que fosse tarde demais. A tolerância divina teve seus limites. A parábola de hoje é dirigida, diretamente, aos chefes religiosos de Israel. A eles cabia conduzir o povo de Deus fazendo frutificar a justiça e o direito. Mas tal não aconteceu. Quando o Filho de Deus vem para colher estes frutos, não só não os encontra como, também, será morto por estes chefes. A sentença final significa uma reviravolta: o Reino de Deus será tirado destes dirigentes e entregue a um povo que produza frutos. É uma alusão aos gentios que acolheram Jesus. O Reino de Deus está presente em todos os povos entre os quais vigora "tudo que é verdadeiro, digno de respeito ou justo, puro, amável ou honroso, com tudo o que é virtude ou louvável". O amor e a justiça unem a todos na paz e seus frutos permanecem para sempre.

sábado, 24 de setembro de 2011

Liturgia do 26º DTC - Ano A


26º DTC - Ano A - Dia 25/09/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: Quando o ímpio se arrepende da maldade que praticou, conserva a própria vida
Leitura da Profecia de Ezequiel 18,25-28: Assim diz o Senhor: 25 Vós andais dizendo: 'A conduta do Senhor não é correta'. Ouvi, vós da casa de Israel: É a minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta? 26 Quando um justo se desvia da justiça, pratica o mal e morre, é por causa do mal praticado que ele morre. 27 Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida. 28 Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá; não morrerá.” Palavra do Senhor! - Graças a Deus!

Comentário: Será que eu tenho prazer na morte do ímpio?
Ezequiel fala ao grupo dos exilados que está na Babilônia. Por que foram exilados? A idéia de moral grupal dizia que uma geração acaba pagando pelos erros de gerações anteriores. Nesse modo de pensar os exilados estariam fatalmente pagando pelo acúmulo de erros antepassados. O profeta, porém, vai contra essa concepção, e demonstra o seguinte: Cada pessoa e cada geração é responsável por sua conduta, tanto em nível individual como coletivo. Cada pessoa e geração tem a possibilidade de se converter, mudando completamente a orientação da própria vida. Ezequiel não nega que uma geração possa sofrer conseqüências de atos da geração anterior. Embora a culpa seja das gerações anteriores, aquela que sofre as conseqüências deverá tomar posição e mudar o rumo dos acontecimentos. Ezequiel levanta um problema candente: o problema da responsabilidade em lace do pecado e do sofrimento que dele resulta. Existe certamente um pecado coletivo: a Bíblia fala especialmente do pecado do povo. Jesus é "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). O mal da humanidade é considerado como uma só e enorme pecaminosidade. Mas o profeta acautela contra o perigo que se pode esconder nesta visão: o risco de lançar sobre a coletividade ou sobre Deus toda a responsabilidade, ficando surdo a todo apelo à conversão individual; o risco de esquecer que a luta profunda entre o bem e o mal se trava no coração do homem. Afirmam os bispos latino-americanos que, no contexto de injustiça institucionalizada que gera uma "situação de pecado social", "não teremos um continente novo sem novas estruturas, mas sobretudo não existirá ali um continente novo sem homens novos que, à luz do Evangelho, saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis".

Salmo Responsorial - Sl 24,4bc-5.6-7.8-9 (R. 6a)
R. Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e compaixão!
4b Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos 4c e fazei-me conhecer a vossa estrada! 5 Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação; em vós espero, ó Senhor, todos os dias!    (R)
6 Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e vossa compaixão que são eternas! 7 Não recordeis os meus pecados quando jovem, nem vos lembreis de minhas faltas e delitos! De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia e sois bondade sem limites, ó Senhor! (R)
8 O Senhor é piedade e retidão, e reconduz ao bom caminho os pecadores. 9 Ele dirige os humildes na justiça e aos pobres ele ensina o seu caminho. (R)

Comentário: Do pecado à conversão
Súplica em estilo de reflexão sapiencial
Este salmo mostra que a situação é obscura. O salmista pede que Deus lhe abra novas perspectivas. Pede também que seus erros involuntários não sejam empecilho para que Deus o trate com amor na situação angustiante em que se encontra. Não está claro qual seja a falta ou pecado. Em todo caso, é ocasião para uma tomada de consciência e conversão. Para Deus não importa o pecado, e sim, que o cristão se arrependa de seus pecados e se converta.

Segunda Leitura: Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus
Leitura da Carta de São Paulo aos Filipenses 2,1-11: Irmãos, 1 se existe consolação na vida em Cristo, se existe alento no mútuo amor, se existe comunhão no Espírito, se existe ternura e compaixão, 2 tornai então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade. 3 Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante 4 e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. 5 Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. 6 Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7 mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8 humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome. 10 Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11 e toda língua proclame: "Jesus Cristo é o Senhor", para a glória de Deus Pai. Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O Evangelho autêntico
Paulo convida a comunidade a evitar as divisões causadas pelo espírito de competição, pelo desejo de receber elogios e pela busca dos próprios interesses. Tais vícios denotam o fechamento egoísta e a autopromoção à custa dos outros. A comunidade deve zelar pela harmonia interna e, para isso, é necessário que haja humildade, cada um considerando os outros superiores a si, e que o empenho tenha sempre em vista o bem comum. Citando um hino conhecido, Paulo mostra qual é o Evangelho da cruz, o Evangelho autêntico, e apresenta em Cristo o modelo da humildade. Embora tivesse a mesma condição de Deus, Jesus apresentou entre os homens como simples homem. E mais: abriu mão de qualquer privilégio, tornando-se apenas homem que obedece a Deus e serve aos homens. Não bastasse isso, Jesus serviu até o fim, perdendo a honra ao morrer na cruz, como se fosse criminoso. Por Deus o ressuscitou e o colocou no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do universo e da história. Os cristãos são convidados a fazer o mesmo: abrir mão de todo e qualquer privilégio, até mesmo da boa fama, para pôr-se a serviço dos outros, até o fim.

Aclamação ao Evangelho Jo 10,27
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Minhas ovelhas escutam a minha voz, minha voz estão elas a escutar; eu conheço, então, minhas ovelhas, que me seguem, comigo a caminhar!     (R)

Evangelho: Arrependeu-se e foi. Os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vós no Reino do céu
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 21,28-32: Naquele tempo, disse Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: 28 "Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha!' 29 O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois mudou de opinião e foi. 30 O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O primeiro". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele".  Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Qual dos dois fez a vontade do pai?
O primeiro filho é figura dos pecadores públicos que se convertem à justiça anunciada por João Batista e por Jesus. O segundo filho é figura dos chefes do povo, que consideram justos e não se convertem. A parábola evangélica desmascara a liderança religiosa do tempo de Jesus, sempre pronta a criticar e a marginalizar os que eram considerados pecadores. Ela própria, no entanto, era incapaz de se submeter, adequadamente, à vontade de Deus. A atitude de um homem e de seus dois filhos é a metáfora do relacionamento do povo de Israel com Deus. O homem da parábola representa Deus. Este tem um projeto para seu povo, expresso no Decálogo, pelo qual cada israelita pautaria sua vida. Da obediência à vontade divina resultaria uma sociedade fraterna, sem excluídos, onde os mais fracos e pequeninos seriam mais dignos de apoio e atenção. A liderança religiosa corresponde ao filho que se predispõe a obedecer às ordens do pai, mas, de fato, se omite. Os mestres da Lei e os fariseus mostravam-se fiéis à vontade de Deus e externamente pareciam se esforçar por cumprir cada preceito da Lei, sem omitir um sequer. Chegavam até a ser minuciosos. Tudo, porém, puro exibicionismo, superficialidade, no intuito de granjear o louvor do povo. Uma piedade sem consistência! Os pecadores, identificados com os cobradores de impostos e as meretrizes, são representados pelo filho que se recusa a obedecer, mas acaba cumprindo a ordem paterna. Correspondem à categoria de pessoas que, aparentemente afastadas de Deus, no seu dia-a-dia buscam ser solidárias, estando sempre prontas para fazer um gesto de amor, numa expressão de fé em Deus. São estas as pessoas que fazem a vontade de Deus, e não as primeiras. O próprio João Batista, dirigindo-se a estes chefes, proclamara: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, então frutos de arrependimento e não penseis que basta dizer: 'Temos por pai a Abraão'"... (Mt 3,7b-9). É contundente e profundamente subversiva a sentença final de Jesus: "Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus". Porque os publicanos e as prostitutas acreditaram em João, mas os chefes de Israel, não. Os marginais acolhem Jesus e as elites o rejeitam. É a expressão de uma sociedade fundada em valores e estruturas equivocados. Suas elites se afirmam em torno do poder e do dinheiro e humilham, exploram e excluem os humildes, fracos, pequenos e pobres. Estes se unem em torno de Jesus que se fez igual a eles. Para Deus o essencial é a prática atual da justiça e do amor, independentemente do passado ou de pretensos direitos religiosos adquiridos.

APROFUNDANDO NA PALAVRA: Eles vos precederão no Reino de Deus
As três parábolas lidas nos evangelho deste e dos dois domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não quis escutar Jesus, e a sua substituição pelos pagãos.
Ninguém é marginalizado por Deus
A parábola dos dois filhos justifica a posição do Cristo diante dos “desprezados”, esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a parábola aos sumos sacerdotes e anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos fariseus (fariseu e publicano: Lc 18,9); replica a todos os que se escandalizam com sua predileção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma prostituta lhe lave os pés, protege a adúltera contra os “puros” que a queriam apedrejar.
Sua vida deixa a Deus a possibilidade de manifestar-se como verdadeiramente é. Estas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus. A parábola se dirige, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se consideram pagos por sua própria suficiência.
As prostitutas haviam dito “não”
A fidelidade a Deus e a justiça não se julgam pelo dizer “sim” ou pela vinha que se possui (figura da pertença racial ao povo eleito!), mas pelos fatos. Trata-se de eliminar as discriminações sociais que a tradição hebraica elaborou. O que importa não é agir como a tradição ensina. É necessário ter coragem de sujar as mãos e de se arriscar na busca de novos valores mais próximos da liberdade, do amor, da felicidade do homem. É pelas obras que se julga a pertença. “Nem todo que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7,21). As palavras, as ideologias podem enganar, podem ser uma ilusão. Descobre-se a verdade do homem por suas obras. Elas não dão margem a equívocos. Só então o homem mostra o que é. Compreendemos então aquela palavra de Jesus, que provoca escândalos aos ouvidos dos que se pretendem bons: “Em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus”. Oficialmente, conforme as categorias religiosas e os critérios morais exteriores da época, eles tinham dito “não”, mas de fato o que importa é sua profunda disponibilidade: a vontade de cumprir, não com palavras, mas com fatos, as obras de penitências.
Deus não decidiu, um dado momento da história, rejeitar Israel e adotar as nações pagãs. Foi o comportamento perante o Messias que os fez perder o papel que desempenhavam na ordem da mediação. O modo como viviam o seu “sim” à Lei os levou a dizer “não” ao evangelho.
Para além das práticas
Existe ainda uma concepção exterior e quantitativa da religiosidade dos grupos e das pessoas (como se só fosse possível medir a religiosidade pela pertença sociológica ou a presença a certas práticas religiosas facilmente verificáveis: missa, sacramentos, orações, devoções, esmolas...) Contribuem para provocar este equívoco certas pesquisas sócio-religiosas que codificam convencionalmente uma escala de religiosidade e de pertença eclesial que, se de certo ponto de vista obriga a abrir os olhos para situações penosas, de outro está bem longe de esgotar o complexo fenômeno da religiosidade, tanto de grupo como individual.
Para além da prática e da pertença exterior e jurídica, existe uma presença e um evidente influxo cristão e evangélico em camadas de populações aparentemente marginais e alheias.
A religião, como é vivida pelos cristãos, apresenta diversos níveis e modalidades de experiência. Pode ser vivida como uma soma de práticas, de devoções, de ritos, como fins em si mesmos; como uma visão do mundo e das coisas; como um critério de juízo sobre pessoas, valores, acontecimentos. Pode manifestar-se como código moral e norma de ação ou como integração fé-vida, isto é, como síntese no plano do juízo e da ação, entre a mensagem do evangelho e as exigências e os esforços da própria vida pessoal e comunitária.
O cristão opera a integração fé-vida. Isto é, o “sim” de sua fé se torna o “sim” de sua vida; a palavra e a confissão dos lábios se tornam ação e gesto das mãos. Assim, a discriminação entre o “sim” e o “não” não passa través das práticas e da observância das leis, mas através da vida.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Liturgia do dia 21/09/2011


Quarta-Feira da 25ª STC - Ano A - Dia 21/09/2011 - Cor: Vermelho
São Mateus, apóstolo e evangelista

Primeira Leitura: Foi Cristo quem instituiu alguns como apóstolos, outros como evangelistas
Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios 4,1-7.11-13: Irmãos, 1 eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes: 2 Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. 3 Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. 4 Há um só Corpo e um só Espírito, como também uma só é a esperança à qual fostes chamados. 5 Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, 6 um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos. 7 Cada um de nós recebeu a graça na medida em que Cristo lha deu. 11 E foi ele quem instituiu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros ainda como evangelistas, outros, enfim, como pastores e mestres. 12 Assim, ele capacitou os santos para o ministério para edificar o corpo de Cristo, 13 até que cheguemos todos juntos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado do homem perfeito e à estatura de Cristo em sua plenitude.  Palavra do Senhor! - Graças a Deus!

Comentário: Há um só corpo, um só Senhor, uma só fé, um só batismo
O alicerce e raiz do amor tem como finalidade conservar a unidade do Corpo de Cristo. Mas unidade não significa uniformização, pois Deus concede dons diferentes a cada pessoa. O aspecto central da vida cristã é a unidade. Com efeito, a ação de Deus em Jesus Cristo unifica toda a realidade. Os cristãos devem ser exemplo vivo dessa unidade, que supera as divisões humanas. O importante tema da unidade é aqui sublinhado por Paulo através da humildade, mansidão, generosidade e, sobretudo, da caridade, que fomentam 'a unidade do espírito pelo vínculo da paz" (versículo 3). Esta unidade não exclui a pluralidade e diversidade de funções e também de opiniões. No vasto campo do opinável também o cristão é livre para indagar e propor soluções diferentes. A unidade na fé e na Igreja não impõe nivelamento de opiniões e expressões, porém vivificada pelo espírito de caridade, é sempre respeitosa das idéias e expressões dos que não pensam ou agem como nós. O que deve estar no coração de todo cristão é a unidade em Cristo, que faça de todos nós "um só corpo, um só Espírito" (versículo 4), porque "Deus é Pai de todos...". De uma religiosidade individualista somos chamados a nos converter a uma religiosidade eclesial, comunitária.

Salmo Responsorial - Sl 18(19A),2-3.4-5 (R. 5a)
R. Seu som ressoa e se espalha em toda a terra.
2 Os céus proclamam a glória do Senhor, e o firmamento, a obra de suas mãos; 3 o dia ao dia transmite esta mensagem, a noite à noite publica esta noticia.    (R)
4 Não são discursos nem frases ou palavras, nem são vozes que possam ser ouvidas; 5 seu som ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do universo sua voz.   (R)

Comentário: A ordem que Deus quer
Hino de louvor, em estilo sapiencial, enaltecendo a glória de Deus, que criou a ordem da natureza e do mundo humano
Este salmo nos mostra que a ordem e beleza do universo são como silencioso e contínuo louvor ao Criador. O homem humaniza a natureza, articulando esse louvor com suas próprias palavras. A harmonia do mundo humano é criada pela palavra de Deus. Esta, como lei ou instrução, ensina a humanidade a viver na fraternidade e na justiça. A harmonia criada por Deus pode ser perturbada ou destruída pelo orgulho, que gera todo tipo de erros e crimes. Essa harmonia da criação é convite para que o homem se converta e se torne íntegro.

Aclamação ao Evangelho
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos, vos louva, ó Senhor, o coro dos apóstolos.    (R)

Evangelho: "Segue-me!" Ele se levantou e seguiu Jesus
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 9,9-13: Naquele tempo, 9 Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: "Segue-me!" Ele se levantou e seguiu a Jesus. 10 Enquanto Jesus estava à mesa, em casa de Mateus, vieram muitos cobradores de impostos e pecadores e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. 11 Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: "Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?" 12 Jesus ouviu a pergunta e respondeu: "Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. 13 Aprendei, pois, o que significa: 'Quero misericórdia e não sacrifício'. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores". Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Quero misericórdia!
Os cobradores de impostos eram desprezados e marginalizados porque colaboravam com a dominação romana, cobrando imposto e, em geral, aproveitando para roubar. Jesus rompe os esquemas sociais que dividem os homens em bons e maus, puros e impuros. Chamando um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e comendo com os pecadores, Jesus mostra que sua missão é reunir e salvar aqueles que a sociedade hipócrita rejeita como maus. Com a citação de Oséias 6,6, Mateus esclarece o sentido da missão de Jesus: a justiça do reino é inseparável da misericórdia. A censura dos fariseus por Jesus se ter sentado à mesa com os cobradores de impostos e os pecadores serviu de ocasião para explicitar um aspecto fundamental de sua ação missionária: no trato com as pessoas, buscava ser o máximo misericordioso, não se deixando levar por preconceitos, nem se desesperando quanto á possibilidade de conversão de seus interlocutores. Exatamente o contrário da atitude dos fariseus! Como a missão de Jesus consistia em colocar-se a serviço dos pecadores, nada mais conveniente do que ser misericordioso para com eles. Sendo o Messias, podia dar-se ao luxo de assumir uma postura de juiz e condená-los desapiedadamente. Ou então, mantendo-se à distância, denunciar-lhes o pecado e tentar arrancá-los do mundo pecaminoso em que viviam. A opção de Jesus vai numa outra direção. Coloca-se no meio daqueles aos quais veio anunciar a salvação, exercendo sua missão mediante a partilha de vida. Este é o canal pelo qual o amor de Deus atinge aqueles que o preconceito religioso relegou à condição de malditos e condenados. Jesus salva pela misericórdia! Sua ação pauta-se por lógica irrefutável: coloca-se ente os pecadores, por ter vindo para eles. Assim como os médicos vão em busca de pessoas doentes, Jesus vai ao encalço de quem, de fato, necessita ser salvo. Portanto, longe de estar agindo de maneira censurável, seu gesto é cheio de sentido divino. Esta narrativa é encontrada nos três evangelhos sinóticos: Marcos, Mateus e Lucas. Em Marcos e Lucas, o homem sentado na coletoria de impostos (publicano), chamava-se Levi. Contudo, no evangelho de Mateus, este homem se chama Mateus. A tradição identificou, então, Levi com Mateus, que seria o próprio autor deste evangelho. Porém, diante das inúmeras recorrências e citações relativas ao Primeiro Testamento que encontramos neste evangelho, pode-se perceber que o seu autor é um "escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus..." (cf. Mt 13,52), e não um publicano. Tendo já chamado os quatro primeiros discípulos, que eram humildes pescadores, Jesus se dirige, agora, ao publicano Mateus (Levi). Os publicanos eram os coletores de impostos que trabalhavam para administradores romanos, que na Galiléia estavam sob a autoridade de Herodes. Nesta condição chegavam a alcançar uma posição econômica favorecida. Porém eram excluídos da sociedade religiosa judaica. Os fariseus fazem pressão sobre os discípulos de Jesus, procurando desacreditá-lo devido ao fato de comer com publicanos e pecadores. O judaísmo repudiava qualquer convívio com os excluídos, particularmente a refeição comum. Estes excluídos, considerados "pecadores" conforme os critérios de pureza da Lei, eram principalmente os pobres e doentes, que não tinham condições de observar detalhadamente as centenas de prescrições desta Lei. Assim humilhados, eles se submetiam à autoridade da casta religiosa que se considerava "purificada" e "justa". Jesus interfere com uma citação do profeta Oséias. Indo à raiz dos problemas, este profeta denuncia a existência da realeza em Israel, "Efraim e Judá", particularmente a realeza davídica, opressora e excludente, associada à Lei e ao Templo de Jerusalém com seus sacrifícios.