Primeira Leitura: Farei surgir um profeta e porei em sua boca as minhas palavras
Leitura do Livro do Deuteronômio 18,15-20: Moisés
falou ao povo dizendo: 15 "O Senhor teu Deus fará surgir para
ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás
escutar. 16 Foi exatamente o que pediste ao Senhor teu Deus, no
monte Horeb, quando todo o povo estava reunido, dizendo: 'Não quero mais
escutar a voz do Senhor meu Deus, nem ver este grande fogo, para não acabar
morrendo'. 17 Então o Senhor me disse: 'Está bem o que disseram. 18
Farei surgir para eles, do meio de seus irmãos, um profeta semelhante a ti.
Porei em sua boca as minhas palavras e
ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar. 19 Eu mesmo pedirei
contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em meu nome. 20
Mas o profeta que tiver a ousadia de dizer em meu nome alguma coisa que não lhe
mandei ou se falar em nome de outros deuses, esse profeta deverá morrer'".
Palavra do Senhor! - Graças a Deus!
Comentário: Farei surgir um profeta e porei em sua boca as minhas palavras
Todas as nações têm ideólogos que procuram preservar e
dirigir a história e a sociedade de acordo com os interesses da classe dominante.
Na antigüidade, essa função era exercida pelos adivinhos, astrólogos e magos,
que as autoridades consultavam para tomar decisões importantes. O povo de Deus,
porém, deve pertencer exclusivamente a Deus; por isso terá pessoas como Moisés,
que orientarão para construir uma história e sociedade de acordo com o projeto
do Deus do êxoto. Esse é o critério básico para distinguir entre o profeta e os
ideólogos de uma sociedade contrária ao projeto de Deus.
Salmo Responsorial - 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)
R. Não fecheis o
coração, ouvi hoje a voz de Deus!
1 Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o rochedo que nos salva! 2 Ao seu encontro caminhemos com
louvores, e com cantos de alegria o celebremos! (R)
6 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, e
ajoelhemos ante o Deus que nos criou! 7 Porque ele é o nosso Deus,
nosso pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com
sua mão. (R)
8 Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: "Não
fecheis os corações como em Meriba, 9 como em Massa, no deserto,
aquele dia, em que outrora vossos pais me provocaram, apesar de terem visto as
minhas obras". (R)
Comentário: Escutem o que Deus fala
Oração de louvor, com advertência em estilo profético.
O motivo de louvor é o próprio Deus vivo que criou o mundo e
está acima de todos os deuses das nações e seus projetos. Ele é o soberano do
universo que criou o povo e se aliou a ele, dirigindo-o na história como
pastor. Deus deu a terra ao povo. Seu usufruto, porém, depende da fidelidade ao
projeto dele. Se a infidelidade dos antepassados impediu que eles entrassem na
terra da liberdade e da vida, a infidelidade da geração atual poderá perdê-la.
Por isso, devemos viver segundo o projeto que Deus tem para a nossa vida, pois,
com certeza, Deus é sempre fiel e misericordioso com todos nós.
Segunda Leitura: A jovem solteira se ocupa com as coisas do Senhor, para ser santa
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 7,32-35:
Irmãos: 32 Eu gostaria que estivésseis livres de
preocupações. O homem não casado é solícito pelas coisas do Senhor e procura
agradar ao Senhor. 33 O casado preocupa-se com as coisas do mundo e
procura agradar à sua mulher 34 e, assim, está dividido. Do mesmo
modo, a mulher não casada e a jovem solteira têm zelo pelas coisas do Senhor e
procuram ser santas de corpo e espírito. Mas a que se casou preocupa-se com as
coisas do mundo e procura agradar ao seu marido. 35 Digo isto para o
vosso próprio bem e não para vos armar um laço. O que eu desejo é levar-vos ao
que é melhor, permanecendo junto ao Senhor, sem outras preocupações. Palavra do Senhor! - Graças a Deus!
Comentário: A jovem solteira se ocupa com as coisas do Senhor, para ser santa
Para a Igreja primitiva eram iminentes o fim do mundo e a
manifestação final e gloriosa de Jesus. É nessa perspectiva que podemos
compreender muitos conselhos referentes ao matrimônio, ao celibato e à
virgindade: se o fim está próximo, para que se casar e ter filhos? Na visão de
Paulo, a virgindade é vista como dom total da própria vida ao Senhor, como
maneira de empenhar-se totalmente no testemunho do Evangelho. Jesus já
destacava a grandeza do celibato na consagração radical a Deus e ao Reino, mas
sem o impor. (cf. Mt 19,10-12). Por outro lado, o projeto de Deus, no
matrimônio, o homem está de tal forma unido à sua mulher a ponto de formar
"uma só carne". Esta expressão revela a profundidade da comunhão que
o matrimônio estabelece entre os cônjuges. Separá-los seria dividir em dois o
corpo humano. Coisa impensável! Portanto, os discípulos do Reino devem
precaver-se contra a profanação do matrimônio. É loucura querer destruir a obra
de Deus. Aos casais cristãos, a responsabilidade de conservar essa união!
Aclamação ao Evangelho Mc 4,16
R. Aleluia, Aleluia,
Aleluia.
V. O povo que jazia nas trevas viu brilhar uma luz
grandiosa; a luz despontou para aqueles, que jaziam nas sombras da morte. (R)
Evangelho: Ensinava
como quem tem autoridade
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1,21-28:
21 Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus
entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 Todos ficavam admirados com
o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres
da lei. 23 Estava então na sinagoga um homem possuído por um
espírito mau. Ele gritou: 24 "Que queres de nós, Jesus
nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o santo de
Deus". 25 Jesus o intimou: "Cala-te e sai dele!" 26
Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu.
27 E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros:
"O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos
espíritos maus, e eles obedecem!" 28 E a fama de Jesus logo se
espalhou por toda parte, em toda a região da Galiléia. Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!
Comentário do Evangelho: Jesus vence a alienação
A ação demoníaca escraviza e aliena o homem, impedindo-o de
pensar e agir por si mesmo (por exemplo: ideologias, propagandas, estruturas,
sistemas, etc.): outros pensam e agem através dele. O primeiro milagre de Jesus
é fazer o homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim o homem pode
segui-lo. Marcos não diz qual era o ensinamento de Jesus; contudo,
mencionando-o junto com uma ação de cura, ele sugere que o ensinamento com
autoridade repousa numa prática concreta de libertação: com sua ação Jesus
interpreta as Escrituras de modo superior a toda a cultura dos doutores da Lei.
A pergunta desesperada do homem possuído por um espírito imundo revela a
incompatibilidade radical que existe entre Jesus e tudo quanto lhe é contrário.
A frase “Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré?” pode ser assim desdobrada:
“Que existe em comum entre nós?”; “O que você está querendo fazer conosco?”;
“Qual a sua intenção a nosso respeito?”. Evidentemente, entre Jesus e o
espírito imundo nada havia em comum. Um libertava o ser humano, o outro o
escravizava. Um recuperava as pessoas para Deus, já o outro as afastava sempre
mais do projeto do Pai, numa aberta afronta a ele. Um restaurava no coração
humano o sentido da vida fraterna e solidária, o outro, pelo contrário, gerava
discórdia e divisão. Um encarnava a novidade da misericórdia de Deus, o outro
insistia no caminho inconveniente da soberba. Por isso, a única intenção de
Jesus era derrotar este espírito mau. À ordem do Mestre, ele deixou o possesso,
depois de agitá-lo violentamente e fazer grande alarido. Esta é a imagem do que
se passa no coração de cada um de nós: o mau espírito reluta em abandonar o
espaço conquistado no nosso interior. Se não nos deixamos ajudar por Jesus,
corremos o risco de permanecer escravos desse espírito do mal. O discipulado
cristão exige que façamos a experiência de ser libertados pelo Mestre, pois é
impossível compatibilizá-lo com as forças do mal que agem dentro de nós. A
autoridade com que Jesus falava e realizava milagres chamava a atenção das
pessoas. Embora houvesse muitos mestres e se tivesse notícia de indivíduos
capazes de operar prodígios, ele se distinguia de todos os demais. Não era um
milagreiro qualquer, nem um rabi como tantos outros. Em que consistia a sua
originalidade? As palavras e a ações de Jesus apontavam para algo que o
superava. Não correspondiam àquilo que se podia esperar de um ser humano comum.
Por exemplo, o modo como se defrontava com os espíritos imundos, e os submetia
destemidamente, tinha algo de insólito. O segredo de tudo isto é que Jesus era
detentor de um poder, recebido de Deus. Era o Pai mesmo quem agia por meio do
Filho. Por isso, o povo percebia existir algo de especial no que ele fazia. O
próprio Jesus afirmava não agir por conta própria, e sim, por iniciativa
divina. Jamais dissera estar nele a fonte de seu poder. Antes, buscava sempre
levar seus ouvintes e espectadores a atribuir a Deus tudo o que viam e ouviam.
As ações do Mestre eram verdadeira revelação do Pai. Ao constatar que Jesus
ensinava, com autoridade, uma doutrina nova, as pessoas podiam reconhecer,
logo, a ação de Deus no meio delas.
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