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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Somos seduzidos por fraqueza ou escolhemos pecar?

Nossa consciência, lugar onde Deus habita, nos inquieta; ainda assim, muitas vezes, fazemos o mal. Isso é resultado de nossa fraqueza ou de nossa livre escolha?
Dizer ‘não’ ao pecado é uma luta presente na vida de todo cristão que leva a sério sua caminhada. É real perceber que sinais  antecedem o ato de pecar, pois somos acometidos pelos desejos e pelas paixões que não controlamos ou que escolhemos não controlar. Para que o ato seja pecaminoso precisa haver um processo consciente, uma decisão. Se não é consciente, ou seja, se a pessoa não tem a capacidade de escolher entre fazer ou não, isso não caracteriza pecado. Nesse contexto, existe uma realidade que permeia todas as situações de pecado: a concupiscência.
No Catecismo da Igreja Católica, lê-se que a concupiscência “desregra as faculdades morais do homem e, sem ser nenhuma falta em si mesmo, inclina o homem a cometer pecado” (CIC 2515). Ou seja, é um ato da razão que antecede o pecar, podemos dizer que é “planejar” o pecado.
No texto bíblico que meditamos, vemos que Caim se chateia com a preferência de Deus à oferta feita por seu irmão Abel. O Senhor, ao perceber isso, o questiona: ”Por que andas irritado e com o rosto abatido?” (Gn 4,6). Deus tem a intenção de mudar o coração de Caim, mas ele não se abre ao Senhor, esconde-se. Dentro dele, havia o desejo de matar seu irmão, e nem mesmo Deus o alertando sobre as consequências, o faz mudar de ideia.
Quantas vezes nos encontramos em situações diante das quais percebemos, claramente, que estamos a ponto de cometer um ato inconsequente que resultará em pecado? Um homem que se sente atraído por uma mulher casada, por exemplo, ao perceber que pode ser correspondido, insiste, mesmo sabendo que deve evitar, pois aquilo lhe agrada de alguma forma. Há dentro do ser humano esse alerta, mas, nós, muitas vezes, o ignoramos, passamos por cima dele, agimos e pecamos. Nossa consciência, lugar onde Deus habita, nos inquieta diante dessas circunstâncias, mas o homem não enxerga ou finge que não vê e prossegue com sua inclinação ao mal.
Basta olharmos para nosso último pecado e refletirmos um pouco. Vejamos o que foi gerado dentro de nós antes do pecado. Sabíamos que a situação nos levaria ao erro; mesmo assim, prosseguimos. Deixamo-nos seduzir por fraqueza ou, simplesmente, pecamos por livre escolha?
Caim convida seu irmão a ir ao campo – aqui vemos que ele pensou no que fazer, trata-se de um ato premeditado, o primeiro homicídio relatado pela Bíblia. Esse fato também quer nos ensinar que em nós há essa postura de planejar o pecado e enganar Deus; muitas vezes, enganamos a nós mesmos, numa atitude consciente e premeditada.
Nossa leitura termina com uma frase que cria em nós um impacto se pararmos e refletirmos sobre ela: “A ti vai seu desejo, mas tu deves dominá-lo” (Gn 4,7). Essa frase de Deus dirigida a Caim revela que o Senhor sabia da intenção do coração dele, tanto que, se lermos todo o versículo sete, onde Deus fala ao nosso personagem, veremos que Ele vê a sua aparência, sinal claro de que “o pecado o estava espreitando à porta” (cf. Gn 4,7). Sim, o ser humano dá sinais claros de que vai pecar; nesses sinais, temos a oportunidade de lutar contra o pecado, de firmar nosso coração em Deus e declarar: “PHN! Por hoje não, por hoje não vou pecar”. Esses sinais nos dão a chance de escolher entre bem e o mal.
Então, encontraremos uma chave na luta pela santidade, uma arma que o próprio Deus nos deu. Como vemos no Catecismo da Igreja Católica (CIC), a concupiscência não caracteriza o pecado em si mesmo, é o intervalo entre o estímulo que recebemos e a nossa reação. Assim, podemos dizer que, neste intervalo, podemos nos controlar e deter nossa reação. Portanto, é possível dominar o desejo, dominar a concupiscência!
Não fomos criados para ser escravizados por nossos desejos, e precisamos nos convencer de que sozinhos não os podemos dominar. Deus coloca pessoas ao nosso lado, coloca leituras, palestras e muito mais à nossa disposição para que cresçamos no autoconhecimento e também no dia a dia. Ele nos dá a possibilidade de escolher o que devemos fazer diante dos estímulos externos que recebemos. E uma capela, uma igreja, é o lugar ideal para derramarmos todas as nossas angústias, para estarmos diante de Jesus e pedir a Ele o socorro necessário, pois o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza (cf. Rom 8,26). Isso requer treino, isso requer esforço e luta!
Deus nos abençoe nesta batalha pela santidade.

Paulo Pereira

José Paulo Neves Pereira nasceu em Nossa Senhora do Livramento (BA). É missionário da Comunidade Canção Nova e atua no setor de Midias sociais da Canção Nova. Twitter: @paulopereiraCN

Qual a vontade de Deus para a minha vida?


A palavra meditada hoje está em Efésios 5,15-20:

“Portanto, ficai bem atentos à vossa maneira de proceder. Procedei não como insensatos, mas como pessoas esclarecidas, que bem aproveitam o tempo presente, pois estes dias são maus. Não sejais sem juízo, mas procurai discernir bem qual é a vontade do Senhor. Não vos embriagueis com vinho – pois isso leva ao descontrole –, mas enchei-vos do Espírito: entoai juntos salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e salmodiai ao Senhor, de todo o coração; sempre e por todas as coisas, no nome de nosso Senhor Jesus Cristo, rendei graças a Deus que é Pai.”


Pessoas esclarecidas aproveitam o tempo presente, pois não estamos vivendo tempos favoráveis. Compreendamos a vontade de Deus para nós. Perguntemo-nos: “Qual a vontade de Deus para minha vida? O que o Senhor quer de mim?”. Corremos o risco de viver achando que o Pai não criou um projeto de felicidade para nós.

Mesmo em meio aos sofrimentos, o plano de Deus para a nossa vida concorre para a nossa felicidade. O que pensamos de bom para a nossa vida, o que planejamos para nós, não chegam nem perto da felicidade que o Senhor já nos reservou.

A vontade do Senhor é a nossa santificação. Ele deseja a nossa santidade. Infelizmente o significado de ser santo é utilizado de maneira distorcida, pois subentendemos que é ser uma pessoa sem vida. Santo é um bem-aventurado, é aquele que vive com alegria.

Se somos felizes porque temos Deus em nossa vida, somos pessoas bem-aventuradas e estamos trilhando nosso caminho de santificação. Quem se realiza em Deus é um homem e mulher santos. Quando nós voltamos para o Senhor e não para nós mesmos, o Espírito Santo nos impulsiona a viver uma vida de santidade.

Deus nos deu o Espírito Santo e traçou um projeto para a nossa vida. O plano do Senhor nunca se esgota, pois, cada dia é uma surpresa. Temos a liberdade de colaborarmos ou não com o plano de Deus. O plano de Deus não retira nossa liberdade e nem as surpresas da vida.

 Como saber os planos de Deus para nós? A cada avanço, Ele nos mostra o que devemos fazer de novo. Não queiramos pular as etapas dos planos do Senhor em nossa vida. O justo vive da fé, ou seja, um dia após o outro.

Para termos fé, temos que ter a liberdade para duvidar (no sentido de questionar Deus, de apresentar a Ele as nossas dúvidas), pois isso é sinal de que podemos acreditar. A vida na fé nos revela a vontade de Deus no nosso cotidiano. Se nosso coração está em sintonia com o Pai, o Espírito Santo nos conduzirá.

Vigiemos sobre o nosso comportamento, nos ocupemos somente com aquilo que é importante, não tenhamos excessos, permaneçamos em oração e sejamos sempre agradecidos. Seguindo esses passos, conseguiremos encontrar a vontade de Deus para a nossa vida. O Senhor nos responderá e nos guiará.



Márcio Mendes

Missionário da Comunidade Canção Nova

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Curso Anual do Clero do Diocese de Umuarama

O Curso Anual do Clero da Diocese de Umuarama, iniciou na segunda-feira, 14, às 12h00, e teve seu encerramento no dia 17 com um delicioso almoço festivo. O tema deste ano foi: “Os grandes centros urbanos e os desafios da Igreja”, tendo como assessor Pe. Wagner Aparecido Scarponi, da Arquidiocese de São Paulo.
“A dimensão urbana é algo que atinge a todos nós hoje. Mesmo quem não mora em um grande centro urbano é atingido por muitas coisas que o grande centro traz: os meios de comunicação, internet, celular, os sonhos que as pessoas têm de fazer uma faculdade e tem que ir para uma cidade grande, os sonhos de melhorar de vida, entre outros fatores. Estudamos nestes dias aqui os elementos das cidades grandes, as características e o que é positivo na vida das pessoas e o que é negativo”, explicou Pe. Wagner.
Durante os dias de curso, os padres e diáconos que compõem o clero da Diocese de Umuarama, além do Bispo Diocesano Dom frei João Mamede Filho e o Bispo emérito Dom José Maria Maimone, tiveram momentos de aprendizado, descontração e de esporte – na noite de terça-feira tiveram uma partida de futebol, o que animou o encontro.

O encerramento foi com o almoço, onde puderam confraternizar juntos.

Fonte: http://www.diocesedeumuarama.org.br

Como ler a Bíblia dentro do seu contexto

É necessário compreender um pouco o contexto no qual o texto bíblico foi escrito
A proposta desse artigo é entendermos melhor uma regra de ouro da literatura, qualquer que seja ela: ler o texto dentro do seu contexto. Isso significa vê-lo também como produto de pessoas diferentes e de épocas também diferentes.
Muitas vezes, nos sentimos desencorajados com determinados textos bíblicos por não conseguirmos entendê-los. Quem nunca leu uma passagem bíblica e não apreendeu quase nada do que estava escrito ali? Quem nunca deparou com conceitos muito complicados e muito distantes daquilo que entendemos e vivemos hoje?
Isso acontece porque cada um dos livros da Sagrada Escritura faz parte de um contexto mais amplo, cujos textos foram escritos numa época muito distante da nossa. Dessa forma, a leitura se torna um pouco mais complexa e, não raras vezes, incompreensível, em virtude de uma distância temporal, linguística e cultural existente entre a redação do texto bíblico e a leitura e a interpretação que fazemos hoje.

A melhor forma de leitura
E por isso chamamos a atenção para a necessidade de uma leitura mais cuidadosa e não tão rápida e superficial, para que não ocorra uma interpretação equivocada e arriscada. Porque é natural entendermos o que lemos a partir de conceitos e da ideia que temos do mundo moderno em que vivemos, esquecendo-nos de que a Bíblia é formada por textos antigos, construídos num mundo diferente do nosso.
Dessa maneira, precisamos buscar o máximo de informações sobre o texto que iremos estudar. Tudo que o cerca, de modo especial o período em que foi escrito e qual contexto histórico que o influencia. Quanto mais informações tivermos a respeito dele [texto], tanto mais poderemos nos guiar pela regra literária citada no começo deste artigo: ler o texto dentro do contexto.
Mas como podemos saber mais sobre a época em que os textos bíblicos foram compostos e sob quais condições se deu esse processo de redação do texto que vamos ler?
É fácil. Basta consultarmos as nossas próprias Bíblias, pois elas nos fornecem essas informações. Precisamos conferir as introduções apresentadas antes de cada livro bíblico. Assim acontece, por exemplo, nas traduções da Bíblia, como a versão da TEB, da Bíblia Jerusalém e do Peregrino. Ou ainda, como na tradução da Bíblia Ave-Maria que traz logo na sua abertura um comentário sobre cada um dos livros bíblicos.
Essas introduções são muito importantes, pois nos dão informações preciosas a respeito do livro que vamos ler, informações estas muito úteis e práticas a respeito do período de composição do texto, sobre o contexto histórico no qual se deu essa redação, a qual grupo esse texto foi primeiramente dirigido, quem o redigiu, entre outros.
Caso tenhamos acesso a fontes confiáveis que podem, da mesma maneira e talvez de forma mais completa, nos fornecer essas informações, podemos e devemos utilizá-las, pois, como dissemos anteriormente, quanto mais informações temos do texto, tanto maior será nossa segurança de que o leremos dentro do contexto, evitando erros e equívocos. Mas, lembre-se: é importante que conheçamos bem essa literatura secundária utilizada para não consultarmos uma bibliografia que possa nos levar ao erro.

O  perigo  de  informações pela internet
Um alerta aos que fazem uso da internet: muito cuidado ao buscar essas informações nesse espaço virtual. Não tenho nada contra a rede mundial de computadores; muito pelo contrário, sou usuário e a vejo como um facilitador da vida cotidiana. Mas, infelizmente, em se tratando de estudos bíblicos, a grande maioria das coisas que encontro nela possui muitos erros ou está ligada a outra doutrina diferente da católica.
Outro recurso apresentado pelas Bíblias, que além de nos auxiliar na compreensão dos textos, também nos fornece informações importantes sobre o conteúdo do que lemos são as notas de rodapé. Essas observações são muito valiosas porque são explicativas e por meio delas nos são esclarecidas questões ligadas à língua, à geografia, à cultura, entre tantas outras coisas que facilitam o nosso entendimento deles. Muitos as ignoram, justamente por serem pequeninas, às vezes é difícil enxergá-las, mas elas estão ali para servir de auxílio para que o texto se torne mais acessível a nós que estamos distantes temporal, cultural e linguisticamente dos textos bíblicos.
Enfim, é necessário fazer uso desses recursos presentes nas nossas Bíblias, assim como das introduções nos livros e das notas de rodapé. Esses recursos fazem, de certo modo, parte da leitura e não podemos ignorá-los. A Igreja, e nossos tradutores, conhecem as distâncias entre nós e o texto e, consequentemente, sabem do risco de uma leitura fora de contexto. Ou seja, informações presentes na própria Bíblia, ainda que não sejam o texto bíblico propriamente dito, são não apenas importantes, mas necessárias para uma leitura da Palavra de Deus sem equívocos e que permita, verdadeiramente, nosso encontro com o sagrado.
Denis Duarte
Denis Duarte é especialista em Bíblia e Cientista da Religião.
Professor da Faculdade Canção Nova e do Instituto de Teologia Bento XVI.
www.denisduarte.com Twitter: @denisduartecom

Autor do livro Entenda os textos da Bíblia

sábado, 5 de setembro de 2015

Reflexão do 23º Domingo do Tempo Comum – B – 06 de setembro de 2015

“Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença; tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia.” (Sl 118,137-124)

Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs, neste domingo, a Sagrada Liturgia nos convida a refletir sobre a fé e as suas etapas em nossa caminhada de salvação. O Evangelho de São Marcos (Mc 7,31-37) relata-nos a cura que ocorre em terras pagãs, do surdo-mudo. Com isso, o evangelista quer nos ensinar que os pagãos são chamados à fé e à comunhão com Deus. Curar um surdo e um mudo era um grande milagre, o que demonstrava que Jesus era o Messias.
Ante o prodígio, o povo, pasmo, elogiava as atitudes daquele que dava sinais de seu messianismo. Mas, na linguagem moderna, a moral do relato evangélico de hoje, traduz que todos nós somos convidados a abrir os ouvidos para escutar “as palavras de espírito e vida” do Divino Mestre e proclamar essas maravilhas por todas as partes, entre todos os povos, vivenciando a beleza da mensagem do Senhor Ressuscitado, vivendo-a intensamente.
Ouvir e proclamar significa, de início, colocar em prática aquilo que queremos anunciar aos nossos irmãos. A fé tem um caminho muito importante. Mas, primeiro, nós temos que crer. É crendo que poderemos dar testemunho. Crendo, vivenciaremos aquilo que cremos, ou seja, os Santos Evangelhos, transmitidos pelos apóstolos e iluminados pela Tradição da Santa Igreja. A partir do crer, do viver, transmitiremos, então, a fé que recebemos e vivenciamos. Não transmitir apenas com o anúncio, mas, sobretudo, com a vivência, com o testemunho de fé.
Assim, todos somos convidados a comunicar as maravilhas de Deus diante da comunidade eclesial e dos não crentes. Hoje, como ontem, os que se fazem surdos-mudos na sociedade são bem mais numerosos do que os que nascem deficientes.
Irmãos e irmãs, as cidades por onde o Evangelho de hoje nos anuncia, Tiro e Sidônia, são consideradas comunidades pagãs. Jesus hoje se encontra no meio de pagãos. Ele estava longe e em lugar de comércio abundante, onde os judeus e os pagãos dominavam as suas gentes. No meio de um povo incrédulo, o Divino Mestre cura um surdo, uma manifestação inequívoca de que era o Messias.
A primeira Leitura de hoje, retirada de Isaías (35,4-7), escrita há 750 anos antes do tempo de Jesus, relembra que a cura de surdos e de mudos faz parte do tempo messiânico. E, para reforçar a nota, o povo exclama: “Ele fez tudo bem feito”, vislumbrando a obra messiânica da restauração do paraíso. Lembra a liturgia como Deus “fez tudo bem” desde o início, conforme já observara o escritor sagrado em Gênesis (1,31s.). O próprio Jesus dá esses milagres como sinal a João Batista de que era o Messias. Marcos é o único Evangelista a contar a cura do surdo-mudo. O deserto desolado e estéril, que os exilados terão de atravessar na caminhada de regresso à sua terra, transformar-se-á numa terra fértil, com água em abundância e onde o Povo não terá dificuldade em saciar a sua fome e a sua sede. A abundância de água no deserto, de que o profeta fala, é outra imagem para mostrar a vontade de Deus em cumular o seu Povo de vida plena e abundante. A marcha do Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade será um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador aquando do primeiro êxodo; no entanto, este segundo êxodo será ainda mais grandioso, quanto à manifestação e à ação de Deus. Será uma peregrinação festiva, uma procissão solene, feita na alegria e na festa.
Caros irmãos, Jesus poderia ter operada essa cura em silêncio. Entretanto, sabendo que se tratava de um pagão, não podendo ouvir a Sua palavra, necessitava de gestos visíveis para compreender que estava sendo curado por uma força superior, uma graça de Deus. Usando a saliva, como em todos os povos, Jesus utilizava-se de um sentido terapêutico. Tocando a saliva com a mão Ele transmite a graça de Deus. Por isso, a Igreja Santa conservou no ritual do Batismo esse gesto da cura do surdo-mudo, no momento em que o Batismo abre no catecúmeno os ouvidos para escutar a Palavra de Deus e para que seja solta a sua língua, para proclamar a bondade infinita de Deus, nosso Criador e Senhor.
Entretanto, seria bom notar que Jesus retirou-se para o lado com o surdo-mudo, para que a multidão não o confundisse com os muitos curandeiros de então. Nesse episódio, observa-se, ainda, os gestos de súplica e de reverência que dirige ao Pai: “eleva os olhos para o céu”, como fizera na multiplicação dos pães para demonstrar que todo o seu poder vinha do Pai que está nos céus e é a origem de todos os bens.
Irmãos e irmãs, todos nós, mesmo que batizados, trazemos sempre um pouco de surdo-mudo, quando não sabemos ligar as realidades terrenas a Deus, sumo bem e fonte de toda a vida.
O curado abriu primeiro os ouvidos para ouvir a Palavra de Deus, e depois começou a falar para dar testemunho das maravilhas do Senhor. Assim deve ser a nossa vida de fé: ouvir com entusiasmo os mistérios da salvação, colocando-os em prática em nossa vida, para depois dar testemunho do que acreditamos.
A grande novidade do Evangelho de hoje é que a religião serve para o bem de todos, eliminando exploração e discriminação, conforme nos ensina a segunda leitura. Para dar chances a uma ordem melhor, provoca até revoluções, se as estruturas que estão vigendo produzem desigualdades e injustiça. Para a Justiça é a exigência mínima do amor.
Jesus nos ensina a ser bom, a fazer o bem a todos, como Ele fez. Para reconhecê-lo como Messias, é preciso que o homem esteja aberto. Ora, nem mesmo os discípulos eram fáceis de se abrir. Jesus não apenas “faz as coisas bem feitas”, mas Ele abre também o coração para ver o Reino de Deus, que esta aí, onde se faz a sua vontade e se revela o seu amor. Marcos hoje insiste, assim, na imposição das mãos, no aplicar a saliva, elevar os olhos, gemer, dizer “effatá” = abre-te.
Não é fácil abrir o homem para o mistério de Deus. Peçamos, então, a Deus para que possamos abrimo-nos a Ele, ao misericordioso Jesus, infundidos pelas graças do Espírito Santos, para nutrirmo-nos com a Palavra e com a Eucaristia, fortalecendo-nos em nossa caminhada e dispondo-nos a tornarmos co-responsáveis pela obra de Cristo, como discípulos e missionários.
Meus irmãos, a Segunda Leitura, retirada da Carta de São Tiago (2,1-5), coloca-nos diante da opção de Jesus: a opção preferencial pelos mais pobres. Deus não conhece acepção de pessoas, nem se deixa comprar, nem despreza o mais humilde e pobre. Ao contrário, a misericórdia e a bondade de Deus são gratuitas, por isso, cabem melhor em “mãos vazias”.
Quem está repleto das riquezas deste mundo ou de si mesmo não pode receber a riqueza divina que leva para a contemplação da vida divina. A fé em Cristo nos ensina a respeitar a todos, particularmente os mais necessitados, os mais amados e preferidos de Deus.
Deus permite a riqueza, mas condena a sua malversação ou o uso indevido. Para bem poder dar, o homem sempre deve receber de Deus. Nesse sentido, subsiste o problema do rico. Se o rico sempre está cheio de si mesmo, não é mais capaz de receber e aprender de Deus o que é graça e gratuidade. Ele perde também a capacidade de abrir sua mão e o seu coração. Daí, quem é grande e poderoso deve se tornar pobre e criança, frágil e carente, ou seja, dependente totalmente de Deus.
Jesus Cristo nunca discriminou nem nunca marginalizou ninguém, absolutamente ninguém. Jesus sentou-se à mesa com os desclassificados, acolheu os doentes, estendeu a mão aos leprosos, chamou um publicano para fazer parte do seu grupo, teve gestos de bondade e de misericórdia para com os pecadores, disse que os pobres eram os filhos queridos de Deus, amou aqueles que a sociedade religiosa do tempo considerava amaldiçoados e condenados…
A comunidade cristã é hoje, no meio do mundo, o rosto de Nosso Senhor Jesus Cristo para os homens; por isso, não faz sentido qualquer acepção de pessoas na comunidade cristã. Naturalmente, isto é uma evidência que ninguém contesta… Mas, na prática, todos são acolhidos na nossa comunidade cristã com respeito e amor? Porque vemos acontecer hoje tanta perseguição? Porque os que se dizem os melhores, e de fato não os são, querem tripudiar naqueles que tem as suas dificuldades? Tratamos com a mesma delicadeza e com o mesmo respeito quem é rico e quem é pobre, quem tem uma posição social relevante e quem a não tem, quem tem um título universitário e quem é analfabeto, quem tem um comportamento religiosamente correto e quem tem um estilo de vida que não se coaduna com as nossas perspectivas, quem se dá bem com o padre e quem tem uma atitude crítica diante de certas opções dos responsáveis da comunidade? Não esqueçamos: a comunidade cristã é chamada a testemunhar o amor, a bondade, a misericórdia, a tolerância de Cristo para com todos os irmãos, sem exceção.
Estimados irmãos, pode existir doença, sofrimento, privação, mas não é a última palavra. Somos chamados a participar com Deus nos aperfeiçoamentos da criação. Assim, o povo saúda a chegada de Messias, exclamando: “tudo ele tem feito bem!”.
Que possamos, então, todos repetir com Jesus na nova Evangelização: “tudo estamos fazendo bem, em nome de Jesus, que nos chama a ouvir e anunciar o Seu reino de bem-aventurança”. Amém!


Homilia Dominical preparada por: Padre Wagner Augusto Portugal

Comentário do Evangelho de Hoje: O SENHOR DO SÁBADO

Sendo Jesus o Filho do Homem, pleno de poderes recebidos do Pai, podia agir com liberdade diante da tradição. Pouca importância tinha para ele as distinções minuciosas e as interpretações casuístas que corriam nos ambientes farisaicos. No caso do repouso sabático, colocava-se acima dos limites sutis entre as ações proibidas e aquelas permitidas, no dia consagrado ao Senhor.
 Daí sua atitude de indiferença quanto ao fato de seus discípulos, ao atravessar um trigal em dia de sábado, terem apanhado espigas e comê-las. Em que este gesto representava um desrespeito a Deus? Por que classificá-lo como pecaminoso e, por isso, proibi-lo? Jesus não via nele motivos para censurar seus discípulos, e impedi-los de praticar esta ação.
 Se Davi tomou a liberdade de saciar sua fome com pães consagrados, que só aos sacerdotes era permitido comer, o Filho do Homem estava agindo muito mais corretamente com os seus discípulos! Sua superioridade em relação ao antigo rei de Israel permitia-lhe liberá-los da submissão às prescrições judaicas.

 Jesus concedia, assim, aos discípulos uma liberdade desconhecida no mundo dos mestres da Lei e dos fariseus. A ação de Jesus fundava-se num dado que seus adversários desconheciam: sua condição de Filho de Deus.

Homilia do Papa Francisco: Morder a língua antes de falar mal dos outros, diz Papa

Na homilia desta sexta-feira, 04, o Papa falou sobre como o cristão deve ser pacificador e reconciliador

O Papa iniciou suas atividades esta sexta-feira, 04, celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta. Em sua homilia, o Pontífice comentou as leituras do dia, em que São Paulo mostra a identidade de Jesus, o próprio Deus, a quem o Pai enviou para reconciliar e pacificar a humanidade depois do pecado.
Francisco lembrou que a paz é obra de Jesus, d’Ele que se rebaixou para obedecer até a morte, e morte de cruz. O Papa reforçou que a exemplo de Jesus, também se deve buscar a paz e a reconciliação nas pequenas situações do dia a dia. “A nossa tarefa em meio às notícias de guerras, de ódio, inclusive nas famílias, é ser homens e mulheres de paz, homens e mulheres de reconciliação”.
O Papa também levou os fiéis a refletir que os cristãos são chamados a pacificar: “Eu semeio paz? Por exemplo, com a minha língua, semeio paz ou semeio intriga? Quantas vezes ouvimos dizer de uma pessoa: ‘Mas tem uma língua de serpente!’, porque sempre faz o que a serpente fez com Adão e Eva, destruiu a paz. E isto é um mal, esta é uma doença na nossa Igreja: semear a divisão, semear o ódio, não semear a paz. Mas esta é uma pergunta que nos fará bem fazê-la todos os dias: ‘Hoje eu semeei paz ou semeei intriga?’.”
Francisco ainda completou: “Se uma pessoa, durante a sua vida, não faz outra coisa senão reconciliar e pacificar, ela pode ser canonizada: aquela pessoa é santa! Mas devemos crescer nisto, devemos nos converter: jamais dizer uma palavra que seja para dividir; jamais uma palavra que provoque guerra, pequenas guerras; jamais mexericos. Eu penso: o que são as fofocas? É nada? (…) Não! Fofocar é terrorismo, porque quem fofoca é como um terrorista que joga a bomba e vai embora, destrói: destrói com a língua, não promove a paz. Mas é esperto, pois não é um terrorista suicida, ele se protege bem”.
O Papa Francisco, então, fez uma exortação: “Todas as vezes que me vier à boca a vontade de semear discórdia e divisão e falar mal do outro… devo morder a língua!”

E então, o Pontífice fez uma oração final: “Senhor, tu que deste a tua vida, dá-me a graça de pacificar, de reconciliar. Tu derramastes o teu sangue, mas que eu não me importe de a minha língua inchar um pouco se mordê-la antes de falar mal dos outros”.