“A missão do Filho”
Deus não quer que os homens se percam, nem sente prazer em
condená-los. Ele manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar
a vida a todos. Mas a presença de Jesus é incômoda, pois coloca o mundo dos
homens em julgamento, provocando divisão e conflito, e exigindo decisão. De um
lado, os que acreditam em Jesus e vivem o amor, continuando a palavra e a ação
dele em favor da vida. De outro lado, os que não acreditam nele e não vivem o
amor, mas permanecem fechados em seus próprios interesses e egoísmo, que geram
opressão e exploração; por isso estes sempre escondem suas verdadeiras
intenções: não se aproximam da luz. O processo de formação para o discipulado
requer a compreensão da identidade de Jesus e da sua missão. A fé consiste na
adesão ao Mestre assim como se nos apresenta. Quanto mais adequada for esta
compreensão, tanto mais profundo será o compromisso da fé. Eis por que Jesus
pôs-se a instruir Nicodemos a este respeito. O Filho é a expressão perfeita do
amor do Pai pela humanidade, que o ofereceu como prova de amor. A origem divina
de Jesus dá credibilidade às suas palavras, pois seu testemunho reporta-se
diretamente a Deus. Ele não é um simples intermediário entre o Pai e a
humanidade. É a encarnação do amor de Deus. A missão terrena de Jesus consistiu
em colocar-se inteiramente a serviço da salvação da humanidade, propiciando-lhe
a vida eterna. Ele a resgata do poder do pecado e da morte, abrindo-lhe
perspectivas novas de comunhão com Deus. Por seu ministério destruiu-se o muro
de separação erguido entre o Criador e a criatura, refazendo-se a amizade
inicial. Não compete a Jesus ser o juiz da humanidade, condenando-a por seus
pecados. Cabe-lhe, sim, ser seu salvador. Mesmo que a humanidade prefira as
trevas em detrimento da luz, a missão do Filho de Deus permanece inalterada. O
gesto de recusar a luz já traz em si o germe da condenação, porém não tolhe ao
ser humano a possibilidade de converter-se para a luz. Jesus é infinitamente
paciente e espera que o ser humano se decida em favor dele. Deus amou tanto o
mundo que deu seu Filho, enviando-o para sua concepção no ventre de Maria, na
encarnação. O novo Adão, Jesus, já é a realidade da nova humanidade: é o homem
que, na condição de Filho de Deus, já é divino e eterno. O fruto do amor não é a
condenação, mas a salvação, que é realizada por Deus, com o dom gratuito da
vida eterna, e alcançada pela fé. Jesus, a luz do mundo, vem como dom e prova
do amor de Deus. Sua glória, que é a glória do Pai, é a comunicação deste amor.
Contudo, afastam-se da luz aqueles que amam as trevas. Estes, escravos da
riqueza e do poder, praticam a injustiça e a violência, promovem a guerra,
semeando a miséria e a morte. Entram em comunhão de vida eterna com Jesus todos
aqueles que praticam a verdade e a justiça, empenhados na promoção da vida
plena para todos. Neste texto do evangelho de João, temos o seu tema central:
Deus enviou seu Filho único, Jesus, para comunicar a vida eterna a todos que
crerem nele. A encarnação do Filho de Deus se faz em um processo normal de gestação.
A condição humana é assumida por Deus desde o ventre materno de Maria. Em
Jesus, o Filho de Deus, o humano se une ao divino e eterno. Quem crê em Jesus
participa da sua condição divina e eterna. Crer em Jesus é unir-se a ele na
prática da verdade, isto é, na prática de tudo aquilo que está conforme a
vontade do Pai. Os contrastes vida e morte, luz e trevas, são frequentes no
evangelho de João. Trevas é ausência de luz. Onde chega a luz, as trevas
desaparecem. Assim também, a vida e a morte. Onde chega a vida, a morte
desaparece. Na comunhão com Jesus, na prática da vontade de Deus, na verdade e
na justiça, promovendo a vida plena para todos, goza-se da vida eterna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário