Pesquisar

domingo, 26 de junho de 2011

Liturgia do dia 29 de Junho de 2011


Quarta-Feira da 13ª STC - Ano A - Dia 29/06/2011 - Cor: Verde
São Pedro e São Paulo, apóstolos

Primeira Leitura: O filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac
Leitura do Livro do Gênesis 21,5.8-21: 5 Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac. 8 Entretanto, o menino cresceu e foi desmamado; e no dia em que o menino foi desmamado, Abraão deu um grande banquete. 9 Sara, porém, viu o filho que a egípcia Agar dera a Abraão brincando com Isaac. 10 E disse a Abraão: "Manda embora essa escrava e seu filho, pois o filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac". 11 Abraão ficou muito desgostoso com isso, por se tratar de um filho seu. 12 Mas Deus lhe disse: "Não te aflijas por causa do menino e da tua escrava. Atende a tudo o que Sara te pedir, pois é por Isaac que uma descendência levará o teu nome. 13 Mas do filho da escrava farei também um grande povo, por ele ser da tua raça". 14 Abraão levantou-se de manhã, tomou pão e um odre de água e os deu a Agar, colocando-os nos ombros dela: depois, entregou-lhe o menino e despediu-a. Ela foi-se embora e andou vagueando pelo deserto de Bersabéia. 15 Tendo acabado a água do odre, largou o menino debaixo de um arbusto, 16 e foi sentar-se em frente dele, à distância de um tiro de arco. Pois dizia consigo: "Não quero ver o menino morrer". Assim, ficou sentada defronte ao menino, e pôs-se a gritar e a chorar. 17 Deus ouviu o grito do menino e o anjo de Deus chamou do céu a Agar, dizendo: "Que tens Agar? Não tenhas medo, pois Deus ouviu a voz do menino do lugar em que está. 18 Levanta-te, toma o menino e segura-o bem pela mão, porque farei dele um grande povo". 19 Deus abriu-lhe os olhos, e ela viu um poço de água. Foi então encher o odre e deu de beber ao menino. 20 Deus estava com o menino, que cresceu e habitou no deserto, tornando-se um jovem arqueiro. 21 Morou no deserto de Farã, e sua mãe escolheu para ele uma mulher no país do Egito.   Palavra do Senhor! - Graças a Deus!

Comentário: O filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac
O nascimento do filho da promessa é um desafio à natureza e à compreensão humana. Para Deus nada é impossível (cf. Gn 18,14). Enquanto a mãe Agar se coloca à distância para não ouvir os gritos do filho prestes a morrer, Deus houve esse grito e se apresenta para salvar. Trata-se do filho de uma escrava: Deus está aberto para ouvir os clamores de todos os povos e encaminhá-los para a vida. A fraqueza humana aflora entre os heróis da história da salvação, mas o plano de Deus se realiza através e além das fraquezas humanas. Sobre esse plano de Deus é interessante raciocinarmos um pouco. A história da humanidade registra obras colossais realizadas com sacrifício de vítimas inocentes. Alguém deve pagar para que haja progressão, ouve-se às vezes dizer com excessiva leviandade. Não é assim o plano de Deus. Deus quer salvar seu povo, quer conduzi-lo à terra prometida, mas nunca perdeu de vista o bem de cada um. Aqui, Ismael parece repudiado e destinado cruelmente à morte; entretanto, através mesmo desse repúdio se cumpre o seu destino: tornar-se tronco de uma grande nação. O relacionamento com Deus é algo estritamente pessoal; para realizá-lo, porém, cumpre secundar esse plano e perscrutar, através dos acontecimentos alegres e tristes da vida, a linha de amor que ele percorre.

Salmo Responsorial - Sl 33(34),7-8.10-11.12-13     (R. 7a)
R. Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido.
7 Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia. 8 O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem, e os salva. (R)
10 Respeitai o Senhor Deus, seus santos todos, porque nada faltará aos que o temem. 11 Os ricos empobrecem, passam fome, mas aos que buscam o Senhor não falta nada. (R)
12 Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor Deus. 13 Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias? (R)

Comentário: Deus se alia aos pobres
Oração de agradecimento
Este salmo nos mostra que o agradecimento é feito no meio da comunidade dos pobres. Onde o salmista é um pobre que em meio a uma situação difícil, fez a experiência da solidariedade de Deus e foi liberto. É também, uma grande catequese, centrada no temor de Deus. Trata-se de conhecer que Deus é Deus, e que o homem não é Deus. Mostra também que é preciso empenhar a própria vida na luta pela verdade e justiça, para que todos possam viver dignamente. Essa é a luta que constrói a paz. Nessa luta Deus toma o partido dos justos, ouvindo o seu clamor, libertando-os e protegendo-os. Por outro lado, Deus se posiciona contra os injustos, que são destruídos pelo próprio mal que produzem.

Aclamação ao Evangelho Tg 1,18
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Deus nos gerou pela palavra da verdade como as primícias de suas criaturas.  (R)

Evangelho: Tu vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 8,28-34: Naquele tempo, 28 quando Jesus chegou à outra margem do lago, na região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois homens possuídos pelo demônio, saindo dos túmulos. Eram tão violentos, que ninguém podia passar por aquele caminho. 29 Eles então gritaram: "O que tens a ver conosco, Filho de Deus? Tu vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?" 30 Ora, a certa distância deles, estava pastando uma grande manada de porcos. 31 Os demônios suplicavam-lhe: "Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos". 32 Jesus disse: "Ide". Os demônios saíram e foram para os porcos. E logo toda a manada atirou-se monte abaixo para dentro do mar, afogando-se nas águas. 33 Os homens que guardavam os porcos fugiram e, indo até a cidade, contaram tudo, inclusive o caso dos possuídos pelo demônio. 34 Então a cidade toda saiu ao encontro de Jesus. Quando o viram, pediram-lhe que se retirasse da região deles.  Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: A vitória sobre o mal
A atitude dos que pedem que Jesus vá embora é a mesma de uma sociedade que valoriza mais a posse dos bens do que a libertação dos alienados e escravizados. Em primeiro lugar, Deus quer que o homem viva. A sociedade que põe qualquer coisa acima da vida humana é sociedade que rejeita Jesus. Mateus mostra que Jesus realizou sua ação libertadora, mesmo que para isso tivesse que “invadir” áreas pagãs, consideradas propriedade do demônio. O incidente com a vara de porcos, em território pagão, esconde uma temática teológica, retrabalhada pelo evangelista a partir de um motivo folclorístico, com traços de comicidade: o Filho de Deus venceu o mal, libertando a humanidade do poder demoníaco. Os espíritos malignos, tendo-se apoderado dos dois gadarenos, tornaram-nos refratários a Jesus, levando-os a rejeitar sua presença. Insociáveis e violentos, esses homens viviam no mundo da morte, pois moravam nos sepulcros, seu lugar de habitação, tendo sido reduzidos a um estado de total desumanização. A presença de Jesus reverteu este quadro. Era impossível que ele ficasse impassível diante de uma situação tão deplorável! Sua atitude imediata foi libertar os gadarenos, ordenando aos demônios que voltassem para o mundo da impureza, simbolizada pelos porcos presentes nas imediações. Foi deles a iniciativa de pedir para serem mandados para lá. Afinal, os homens tinham sido recuperados para a vida, libertados do mal. Os habitantes de Gadara não foram capazes de reconhecer o poder de Jesus. Um misto de medo, confusão e ressentimento pela perda dos porcos apoderou-se deles. Por isso, pediram que ele se retirasse de seu território. Em todo caso, doravante os dois homens miraculados seriam um símbolo vivo do poder libertador do Messias Jesus. Mateus reproduz aqui uma narrativa de milagre que Marcos já incluíra em seu evangelho, alguns anos antes. Embora mencione dois possessos, e não um, Mateus resume a narrativa de Marcos e a inclui no bloco de dez milagres, em seguida ao milagre da tempestade no mar acalmada. Com estes milagres, Mateus prepara o envio dos Doze e o discurso missionário. Enquanto em Marcos a narrativa destaca a dimensão libertadora de Jesus ante os vários sistemas opressores, tanto na área de influência judaica como em território gentílico, em Mateus o destaque é o grande poder de Jesus. O seu poder é sobre a natureza e sobre os demônios. Assim revestido de poder, Jesus é apresentado com os traços do messias esperado pelo judaísmo. Percebe-se, assim, as diferenças de enfoques sob os quais é visto: por um lado, Jesus libertador e amoroso, por outro lado, poderoso.

Reflexão do dia: “Os demônios são expulsos”
Este milagre é um dos mais misteriosos dos evangelhos. Na época de Jesus, muitas enfermidades eram interpretadas como possessões diabólicas. Por isso, para eles, o sinal mais evidente da chegada do reino era a vitória sobre essas forças do mal, que oprimem o mundo.
Seria interessante comparar esse relato entre Mateus e Marcos, para perceber as diferenças e os elementos comuns, e entender melhor o relato. O fato de que a cura tenha acontecido em território pagão sugere que a força do Reino e a pregação do Evangelho chegaram a todos os povos.
Esta é a intenção dos evangelistas ao salientar a atividade da Jesus para com os pagãos e o seu poder diante de Satanás.
A justiça do Reino de Deus não veio somente para um povo ou para uma religião. Deus quer a liberdade e a justiça reinando em todos os corações e em todas as nações. Jesus liberta todos aqueles que precisam de libertação. Somos convidados a fazer o mesmo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Liturgia do dia 26 de Junho de 2011


13º Domingo do Tempo Comum - Ano A - Dia 26/06/2011 - Cor: Verde

Primeira Leitura: É um santo homem de Deus, este que passa em nossa casa
Leitura do Segundo Livro dos Reis: 4,8-11.14-16a: 8 Certo dia, Eliseu passou por Sunam. Aí morava uma senhora rica, que insistiu para que fosse comer em sua casa. Depois disso, sempre que passava por aí, Eliseu parava na casa dessa mulher para fazer suas refeições. 9 E ela disse ao marido: "Tenho observado que este homem, que passa tantas vezes por nossa casa, é um santo homem de Deus. 10 Façamos para ele, no terraço, um pequeno quarto de alvenaria, onde colocaremos uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro. Assim, quando vier à nossa casa, poderá acomodar-se aí". 11 Um dia, Eliseu passou por Sunam e recolheu-se àquele pequeno quarto para descançar. 14 E perguntou a Giezi, seu servo: "Que se poderia fazer por esta mulher?" Giezi respondeu: "É inútil perguntar-lhe; ela não tem filhos e seu marido já é velho". 15 Eliseu mandou então que a chamasse. Ele chamou-a e ela pôs-se à porta. 16a Eliseu disse-lhe: "Daqui a um ano, neste tempo, estarás com um filho nos braços".   Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: Portador da vida
A mulher era rica, mas fazia questão de viver no meio do povo simples, sem pretensão nenhuma de participar da alta sociedade. Além do mais sua atenção para com Eliseu, que defendia os pobres, e o fato de não se ligar aos poderosos, mostram que ela não estava comprometida com o sistema opressor. Por isso, Deus faz a vida renascer para ela. O profeta, mais uma vez, é o portador da vida.

Salmo Responsorial - Sl 88(89),2-3.16-17.18-19 - (R. 2a)
R. Ó Senhor, eu cantarei, eternamente, o vosso amor.
2 Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor, de geração em geração eu cantarei vossa verdade! 3 Porque dissestes: "O amor é garantido para sempre!" E a vossa lealdade é tão firme como os céus. (R)
16 Quão feliz é aquele povo que conhece a alegria; seguirá pelo caminho, sempre à luz de vossa face! 17 Exultará de alegria em vosso nome dia a dia, e com grande entusiasmo exaltará vossa justiça. (R)
18 Pois sois vós, ó Senhor Deus, a sua força e sua glória, é por vossa proteção que exaltais nossa cabeça. 19 Do Senhor é o nosso escudo, ele é nossa proteção, ele reina sobre nós, é o santo de Israel! (R)

Comentário: Deus é amor fiel
Oração de súplica numa catástrofe nacional, com especial menção da promessa de Deus feita à dinastia de Davi
O amor e a fidelidade são termos básicos da Aliança e dão a tônica a todo este Salmo. A Aliança com Davi fundou uma dinastia perpétua. Hino de louvor, proclamando a soberania de Deus sobre o universo e a história. Acima de homens e autoridades está Deus. Ele firma o governo delas com amor e fidelidade, a fim de produzir justiça e direito. O povo de Israel se orgulha de ser o escolhido de Deus, com sua função principal de proclamar, através do louvor, o Deus que é sua alegria, honra, força, orgulho, proteção e Rei. Em meio a seu povo, Deus escolheu Davi e sua dinastia, chamados a serem instrumentos para libertar o povo e fazê-lo viver na justiça. Essa aliança com Davi foi feita com juramento e, por isso, é perpétua. Mas há uma condição:que os descendentes sejam fiéis. Caso contrário, Deus os castigará.

Segunda Leitura: Sepultados com ele pelo batismo, vivamos uma nova vida!
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos: 6,3-4.8-11: Irmãos, 3 será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? 4 Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. 8 Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. 9 Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. 10 Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive. 11 Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo.   Palavra do Senhor! - Graças a Deus!

Comentário: Morte e vida com Jesus Cristo
Jesus foi morto por um sistema social injusto, pecaminoso e mortal. Mas Deus o ressuscitou para sempre, condenando assim o sistema que matou Jesus. Pela fé e o batismo, o cristão participa da morte e ressurreição de Jesus. Em outras palavras, cristão é aquele que passa por uma transformação radical: rompe com o sistema pecaminoso, gerador de injustiça e morte, e ressuscita para viver vida nova, a fim de construir uma sociedade nova, que promova a justiça e a vida.

Aclamação ao Evangelho: 1Pd 2,9
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Vós sois uma raça escolhida, a propriedade de Deus; proclamai suas virtudes, pois, de trevas luz vos fez.    (R)

Evangelho: Quem não toma a sua cruz, não é digno de mim. Quem vos recebe, a mim recebe
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus: 10,37-42: Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos: 37 "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. 38 Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. 39 Quem procura conservar a sua vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. 40 Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 41 Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. 42 Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa".   Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: O amor maior
O anúncio da verdade provoca divisão e exige tomada de posição: uns aceitam, outros rejeitam. Os discípulos, porém, devem permanecer firmes no compromisso com Jesus, seguindo-o até o fim. Nem os laços familiares, nem as ameaças à própria vida, nada pode impedir o discípulo de testemunhar a justiça do Reino. A ação missionária exige do apóstolo muita coragem e perseverança. As dificuldades e perseguições surgirão a partir de seus próprios familiares. Esses serão os primeiros a rejeitá-lo. Entretanto, o anúncio do Reino não pode ficar à mercê do humor desses familiares. A fidelidade ao Reino, em algumas circunstâncias, exigirá rupturas. Quem preferir não desagradar seu pai ou sua mãe, recusando-se de proclamar as exigências do Reino sem omitir nada, torna-se indigno do ministério recebido. O Reino deve nortear também as relações familiares. O apóstolo ama o Reino com um amor maior. Por amor, torna-se capaz de assumir sua missão até as últimas conseqüências, até mesmo a morte. Ele tem consciência de que aí se joga sua salvação e sua condenação. A busca medrosa de querer proteger-se e poupar-se, poderá levá-lo à condenação, pois, para isso, terá que abrir mão da causa de Jesus. A predisposição de perder a vida, por causa do Reino, gera salvação. O testemunho dado a favor de Jesus e de seu Reino, diante das pessoas, terá como contrapartida o testemunho que ele dará em favor do apóstolo diante do Pai. O amor ao Reino, portanto, só é verdadeiro quando se torna absoluto no coração do discípulo de Cristo. Com estas palavras de Jesus, no evangelho de Mateus, encerra-se o Sermão da Montanha. São sentenças esparsas, sempre destinadas à formação das comunidades. Os laços familiares representam os vínculos mais fortes do amor-fidelidade. O amor a Jesus deve ser prioritário em relação a estes laços, que refletem mais os interesses terrenos do que o projeto de Deus. Os discípulos, firmes em seu testemunho de amor e libertação não se intimidarão mesmo diante das ameaças de morte dos opressores. A opção pelo seguimento de Jesus é "perder a vida" neste mundo, para inseri-la na eternidade. O caminho contrário é o daquele que encontra sua vida correndo atrás do status social, do sucesso e da segurança do dinheiro. Receber o missionário é receber o próprio Jesus. A conversão ao Reino de Deus supõe profundas mudanças de valores e costumes tradicionais que se estratificaram culturalmente e que fazem o perfil de uma sociedade comprometida com o sucesso pessoal e com a ânsia do enriquecimento.

Liturgia do dia 22 de Junho de 2011


Quarta-Feira da 12ª Semana do Tempo Comum - Ano A - Dia 22/06/2011 - Cor: Verde
S. Paulino de Nola, bispo - S. João Fisher, bispo e S. Tomás More, mártires

Primeira Leitura: Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça; e o Senhor fez aliança com Abrão
Leitura do Livro do Gênesis: 15,1-12.17-18: Naqueles dias, 1 o Senhor falou a Abrão, dizendo: "Não temas, Abrão! Eu sou o teu protetor e tua recompensa será muito grande". 2 Abrão respondeu: "Senhor Deus, que me darás? Eu me vou desta vida sem filhos e o herdeiro de minha casa será Eliezer de Damas¬co". 3 E acrescentou: "Como não me deste descendência, um servo nascido em minha casa será meu herdeiro". 4 Então o Senhor falou-lhe nestes termos: "O teu herdeiro não será esse, mas um dos teus descendentes é que será o herdeiro". 5 E, conduzindo-o para fora, disse-lhe: "Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz!" E acrescentou: "Assim será a tua descendência". 6 Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça. 7 E lhe disse: "Eu sou o Senhor que te fez sair de Ur dos Caldeus, para te dar em possessão esta terra". 8 Abrão lhe perguntou: "Senhor Deus, como poderei saber que vou possuí-la?" 9 E o Senhor lhe disse: 'Traze-me uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, além de uma rola e de uma pombinha". 10 Abrão trouxe tudo e dividiu os animais pelo meio, mas não as aves, colocando as respectivas partes uma frente à outra. 11 Aves de rapina se precipitaram sobre os cadáveres, mas Abrão as enxotou. 12 Quando o sol já se ia pondo, caiu um sono profundo sobre Abrão e ele foi tomado de grande e misterioso terror. 17 Quando o sol se pôs e escureceu, apareceu um braseiro fumegante e uma tocha de fogo, que passaram por entre os animais divididos. 18 Naquele dia o Senhor fez aliança com Abrão, dizendo: "Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio, o Eufrates". Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: Abrão teve fé no Senhor
Deus promete e o homem aspira; mas nada ainda acontece. Deus desafia novamente Abrão com a promessa, e este acredita e confia. A justiça do homem consiste numa entrega confiante ao Deus que garante cumprir o que promete, quando ainda não pode ser verificado (cf. Hb 11,1). Abrão pede um sinal; e como sinal, além da criação e da aliança com Noé, temos aqui a terceira grande aliança. Ora, a aliança era um acordo em que ambos os contraentes se empenhavam entre si; era concluída com um rito, no qual os contraentes passavam entre animais divididos: quem violasse a aliança teria a mesma sorte que esses animais. Notemos que somente Deus (fogueira, tocha) passa entre os animais: a aliança com Abrão é um empenho exclusivo de Deus: só Deus pode realizar aquilo que prometeu. O esquema do Êxodo é fortemente representado no texto: Deus faz Abrão sair de Ur para dar-lhe a terra; da mesma forma, os descendentes de Abrão serão escravos no Egito e Deus os fará sair para lhes dar a terra. Sair para: é o movimento de libertação que torna possível, tanto para o indivíduo, como para o povo ao qual ele pertence, caminhar para a vida. Justiça, recompensa, posse: termos abstratos "de código", para nós; termos concretos, a entender em sentido de relacionamento pessoal, para a Bíblia. Relações vividas na qualidade e no calor de um chamado do Senhor. Donde falar-se de "segunda vocação" de Abrão. Estamos sempre no quadro de religiosidade tecida de relações pessoais que partem de um chamado-iniciativa de Deus e uma resposta-aceitação do homem. Para lá de frias normas protocolares ou cultuais, sublinham-se dúvidas, anseios, temores e esperanças do homem; e generosidade, paciência, grandeza e bondade de Deus. A vida, vivida como resposta ao contínuo chamado de Deus é capaz de mudar totalmente as perspectivas. Uma psicologia dos "chamados" é apta para valorizar plenamente uma existência. Acredita-se que tudo o que se faz, seja qual for o vulto das repercussões, verdadeiramente vale a pena de ser feito. Nada é pequeno, se há na base um chamado do Senhor. Nada se perde se, vindo de Deus, aceito confiantemente por nós, é vivido com amor perseverante e com abertura. Fixa-te em Deus, o único necessário, único que permanece!

Salmo Responsorial - Sl 104(105),1-2.3-4.6-7.8-9    (R. 8a)
R. O Senhor se lembra sempre da Aliança! Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia.
1 Dai graças ao Senhor, gritai seu nome, anunciai entre as nações seus grandes feitos! 2 Cantai, entoai salmos para ele, publicai todas as suas maravilhas! (R)
3 Gloriai-vos em seu nome que é santo, exulte o coração que busca a Deus! 4 Procurai o Senhor Deus e seu poder, buscai constantemente a sua face! (R)
6 Descendentes de Abraão, seu servidor, e filhos de Jacó, seu escolhido, 7 ele mesmo, o Senhor, é nosso Deus, vigoram suas leis em toda a terra. (R)
8 Ele sempre se recorda da aliança, promulgada a incontáveis gerações; 9 da aliança que ele fez com Abraão, e do seu santo juramento a Isaac. (R)

Comentário: A história testemunha a ação de Deus
Recordação da história em estilo de hino. A história é considerada de forma otimista, porque toda ela é fruto da ação de Deus
Este salmo é um convite ao louvor. O motivo é o reconhecimento da história como testemunha da ação de Deus, que fundamenta a confiança do povo. Tema central: O Deus que governa a história prometeu aos antepassados dar uma terra como herança para o povo. A origem do povo de Deus é um grupo humano que, guiado pelo profundo instinto de liberdade, não se deixa escravizar por ninguém. Nesse instinto já está presente o Deus libertador.

Aclamação ao Evangelho: Jo 15,4a.5b
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Ficai em mim, e eu em vós ficarei diz Jesus; quem em mim permanece, há de dar muito fruto.    (R)

Evangelho: Pelos seus frutos vós os conhecereis
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus: 7,15-20: Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 15 "Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16 Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? 17 Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má produz frutos maus. 18 Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons. 19 Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo. 20 Portanto, pelos seus frutos vós os conhecereis". Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: Aprendendo a discernir
Nada se parece tanto com um verdadeiro profeta, como um falso profeta. “As ideologias que nos afastam da opção fundamental pelo Reino e sua justiça são cheias de fascínio, e sempre trazem a aparência de humanidade e até mesmo de fé. Só poderemos perceber a sua falsidade através daquilo que elas produzem na sociedade: a cobiça e a sede de poder, que levam à exploração e opressão. Nem no seio da comunidade cristã o discípulo está a salvo. Aí, também, pode ser vítima de engano, e acabar se desviando do ensinamento autêntico do Mestre. Pois bem, quando Jesus falou de falsos profetas que são como lobos disfarçados em cordeiros não estava se referindo às pessoas de fora, e sim às lideranças da comunidade, que tentavam enganar os que tinham aderido ao Reino. Por conseguinte, os inimigos eram os próprios irmãos de fé. Quem eram os falsos profetas? Eram os cristãos que, com uma aparência de piedade, contaminavam a comunidade com doutrinas espúrias, contrárias às de Jesus. Desta forma, levavam as pessoas a não prosseguirem no seu caminho de fé, e sim a se afastarem da comunidade, em muitos casos, a optarem por uma vida de libertinagem. A preocupação principal era de caráter prático: os cristãos poderiam ser levados a viver uma vida incompatível com sua condição de discípulos do Reino. Urgia ter um agudo senso de discernimento até mesmo em relação à comunidade cristã, e, de maneira especial, a seus líderes. Jesus ofereceu um critério prático, que consistia em confrontar o ensinamento com a vida. O modo de proceder seria o aferidor da veracidade do líder comunitário. Se, no seu dia-a-dia, desse testemunho de lutar pela justiça do Reino, poderia ser considerado verdadeiro profeta. Caso contrário, a comunidade deveria precaver-se dele como de um lobo traiçoeiro. A figura dos "falsos profetas" é encontrada na tradição profética de Israel. Aos profetas identificados com as causas populares se contrapunham os profetas aduladores da corte real ou do poder sacerdotal. Quando Mateus compõe seu evangelho, na década de 80, os chefes das sinagogas tinham decidido expulsar os judeu-cristãos, que até então permaneciam em seu convívio. Nas comunidades de Mateus, havia o conflito entre discípulos que preferiam o retorno às sinagogas e discípulos que permaneciam unidos às comunidades. Os falsos profetas seriam aqueles que se mantinham fixados nas expectativas messiânicas das sinagogas, deixando de reconhecer em Jesus a novidade da revelação de Deus. O tema da árvore e seus frutos já está presente na pregação de João Batista dirigido aos fariseus e saduceus, integrantes da cúpula de poder de Israel. São convidados a produzir bons frutos, pois o machado está posto à raiz de toda árvore que não produz bons frutos (Mt 3,10). Os verdadeiros profetas são aqueles cujos frutos é o dom de sua vida, restaurando a vida no mundo e construindo a solidariedade na comunhão de amor e vida de Deus.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Liturgia do dia 19 de Junho de 2011

Santíssima Trindade – 12º Domingo do Tempo Comum
Ano A - Dia 19/06/2011 - Cor: Verde

Santíssima Trindade
Primeira Leitura: Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente
Leitura do Livro do Êxodo: 34,4b-6.8-9: Naqueles dias, 4b Moisés levantou-se, quando ainda era noite, e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe havia mandado, levando consigo as duas tábuas de pedra. 5 O Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés, e este invocou o nome do Senhor. 6 Enquanto o Senhor passava diante dele, Moisés gritou: "Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel". 8 Imediatamente, Moisés curvou-se até o chão 9 e, prostrado por terra, disse: "Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua".   Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: O Deus da Aliança
Moisés procura a todo custo que Deus continue no projeto de libertação: antes, ele defendeu o povo (cf. 32,11-14); agora procura atrair misericórdia de Deus. Os versículos 6-7 faz uma apresentação do Deus da aliança: a aliança é uma relação de amor fiel, na qual Deus se manifesta através da compaixão e piedade. Isso, porém, supõe a relação de justiça, que faz o homem experimentar a consequência de suas opções e atos.

Salmo Responsorial - Dn 3,52.53.54.55.56: (R. 52b)
R. A vós louvor, honra e glória eternamente!
52 Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais.   (R)
Sede bendito, nome santo e glorioso.    (R)
53 No templo santo onde refulge a vossa glória.   (R)
54 E em vosso trono de poder vitorioso.    (R)
55 Sede bendito, que sondais as profundezas.   (R)
E superior aos querubins vos assentais.    (R)
56 Sede bendito no celeste firmamento.    (R)

Comentário: O cântico de Azarias
Esse cântico de louvor, também presente só nos textos gregos, reúne trechos de salmos e convida a criação toda a um grandioso louvor. Provavelmente o cântico fez parte da liturgia na festa da libertação de Jerusalém e da consagração do Templo em 164 a. C. (cf. 1Mc 4,36-59; 2Mc 10,1-8).

Segunda Leitura: A graça de Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo
Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: 13,11-13: Irmãos, 11 alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco. 12 Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. Todos os santos vos saúdam. 13 A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós.   Palavra do Senhor! - Graças à Deus!

Comentário: Saudações Finais
Estas saudações finais da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, nos mostram que devemos sempre nos alegrarmos e vivermos em paz, em Cristo Jesus, no amor de Deus e na comunhão com o Espírito Santo. Só assim seremos verdadeiramente felizes.

Aclamação ao Evangelho: Cf. Ap 1,8
R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Divino, ao Deus que é, que era e que vem, pelos séculos. Amém.   (R)

Evangelho: Deus enviou seu Filho ao mundo, para que o mundo seja salvo por ele
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João: 3,16-18: 16 Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18 Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Palavra da Salvação! - Glória a Vós, Senhor!

Comentário: A missão do Filho
Deus não quer que os homens se percam, nem sente prazer em condená-los. Ele manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos. Mas a presença de Jesus é incômoda, pois coloca o mundo dos homens em julgamento, provocando divisão e conflito, e exigindo decisão. De um lado, os que acreditam em Jesus e vivem o amor, continuando a palavra e a ação dele em favor da vida. De outro lado, os que não acreditam nele e não vivem o amor, mas permanecem fechados em seus próprios interesses e egoísmo, que geram opressão e exploração; por isso estes sempre escondem suas verdadeiras intenções: não se aproximam da luz. O processo de formação para o discipulado requer a compreensão da identidade de Jesus e da sua missão. A fé consiste na adesão ao Mestre assim como se nos apresenta. Quanto mais adequada for esta compreensão, tanto mais profundo será o compromisso da fé. Eis por que Jesus pôs-se a instruir Nicodemos a este respeito. O Filho é a expressão perfeita do amor do Pai pela humanidade, que o ofereceu como prova de amor. A origem divina de Jesus dá credibilidade às suas palavras, pois seu testemunho reporta-se diretamente a Deus. Ele não é um simples intermediário entre o Pai e a humanidade. É a encarnação do amor de Deus. A missão terrena de Jesus consistiu em colocar-se inteiramente a serviço da salvação da humanidade, propiciando-lhe a vida eterna. Ele a resgata do poder do pecado e da morte, abrindo-lhe perspectivas novas de comunhão com Deus. Por seu ministério destruiu-se o muro de separação erguido entre o Criador e a criatura, refazendo-se a amizade inicial. Não compete a Jesus ser o juiz da humanidade, condenando-a por seus pecados. Cabe-lhe, sim, ser seu salvador. Mesmo que a humanidade prefira as trevas em detrimento da luz, a missão do Filho de Deus permanece inalterada. O gesto de recusar a luz já traz em si o germe da condenação, porém não tolhe ao ser humano a possibilidade de converter-se para a luz. Jesus é infinitamente paciente e espera que o ser humano se decida em favor dele. Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho, enviando-o para sua concepção no ventre de Maria, na encarnação. O novo Adão, Jesus, já é a realidade da nova humanidade: é o homem que, na condição de Filho de Deus, já é divino e eterno. O fruto do amor não é a condenação, mas a salvação, que é realizada por Deus, com o dom gratuito da vida eterna, e alcançada pela fé. Jesus, a luz do mundo, vem como dom e prova do amor de Deus. Sua glória, que é a glória do Pai, é a comunicação deste amor. Contudo, afastam-se da luz aqueles que amam as trevas. Estes, escravos da riqueza e do poder, praticam a injustiça e a violência, promovem a guerra, semeando a miséria e a morte. Entram em comunhão de vida eterna com Jesus todos aqueles que praticam a verdade e a justiça, empenhados na promoção da vida plena para todos. Neste texto do evangelho de João, temos o seu tema central: Deus enviou seu Filho único, Jesus, para comunicar a vida eterna a todos que crerem nele. A encarnação do Filho de Deus se faz em um processo normal de gestação. A condição humana é assumida por Deus desde o ventre materno de Maria. Em Jesus, o Filho de Deus, o humano se une ao divino e eterno. Quem crê em Jesus participa da sua condição divina e eterna. Crer em Jesus é unir-se a ele na prática da verdade, isto é, na prática de tudo aquilo que está conforme a vontade do Pai. Os contrastes vida e morte, luz e trevas, são freqüentes no evangelho de João. Trevas é ausência de luz. Onde chega a luz, as trevas desaparecem. Assim também, a vida e a morte. Onde chega a vida, a morte desaparece. Na comunhão com Jesus, na prática da vontade de Deus, na verdade e na justiça, promovendo a vida plena para todos, goza-se da vida eterna.

APROFUNDANDO NA PALAVRA: Deus é comunidade de amor
Quando o homem olha para dentro de si, a fim de analisar sua experiência religiosa, tem a sensação de um abismo sem fundo, uma profundeza infinita. A essa profundeza inatingível de nosso ser refere-se a palavra "Deus". Deus significa isto: a profundeza última da nossa vida, a fonte do nosso ser, a meta de todos os nossos esforços. Esse fundo íntimo do nosso ser manifesta-se na abertura do nosso "eu para um 'tu", e na seriedade dessa inclinação. Vemos assim impressa em nosso ser a realidade profunda e grandiosa do Deus cristão, a Trindade. Isto é, o mistério de um Deus que é comunidade e comunhão de vida. Um Deus que é Pai, Filho, Espírito Santo.
A comunhão com Deus, fim do homem          
O próprio Deus vem ao homem, manifesta-se a ele como "Senhor", mas cheio de bondade e misericórdia, rico em graça e fidelidade. Na exuberância de seu amor pelo mundo, manifestado no dom de seu Filho único para salvá-lo, o Deus do amor e da paz derrama sobre os homens sua graça em Cristo, e os chama à comunhão com ele no Espírito Santo.
A Comunidade Trinitária é verdadeiramente o valor último e supremo, o único verdadeiro fim último do homem, uma vez que Deus, e somente Deus, é a plenitude de toda perfeição.
A Comunidade Trinitária é verdadeiramente mistério, realidade que supera absolutamente toda compreensão humana. Deus jamais deixará de causar a admiração do homem, e nunca homem algum penetrará na terra de Deus se não estiver disposto a se desarraigar, como Abraão (Gn 12,1), das fronteiras de suas limitações e da estreiteza de suas seguranças. A oração não deve reduzir Deus aos limites do homem; mas deve dilatar o homem aos horizontes de Deus. O silêncio, que o Pai parece opor em muitos casos aos pedidos humanos, nasce da autenticidade de sua paternidade, de sua firmeza em não condescender com a mesquinhez dos planos humanos, para poder substitui-los por planos bem maiores, nascidos do seu amor.
A Comunidade Trinitária é o verdadeiro futuro do homem, só ela pode assegurar ao homem um plano de vida sem limites, porque é capaz de superar até a morte. Diz eficazmente santo Agostinho: "Deus é tão inexaurível que quando encontrado ainda falta tudo para encontrá-lo". Isso significa que o dinamismo e a criatividade humana encontram nele um horizonte sem limites; portanto, um futuro total.
Um só Deus em três pessoas
Esta revelação não vem simplesmente satisfazer nossa necessidade de conhecer a Deus; concerne diretamente ao destino do homem e da criação. De fato, a salvação, como comunhão de amor entre Deus e o homem, reflete as características dos dois interlocutores que a constituem: Deus e o homem. Ora, o homem só pode ser compreendido a partir de Deus: feito à imagem de Deus, é plasmado conforme o Cristo, que é a imagem perfeita de Deus (Cl 1,15). Portanto, as perguntas e respostas sobre Deus são de uma importância fundamental para compreender o homem. Concretamente, a vida humana, de um ponto de vista religioso, desenvolve-se e se expande proporcionalmente ao "conhecimento" do mistério de Deus (Jo 17,3). Se o homem é destinado à comunhão com Deus Pai, é claro que sua vida tem tanto mais valor quanto mais ele consegue seguir o movimento de "subida aos céus" inaugurado pela ascensão de Jesus (Jo 12,32), até sentar-se à direita do Pai para vê-lo face a face. O Padre Faber escreveu que "todo aprofundamento da idéia sobre Deus equivale a um novo nascimento". O mistério do amor Trinitário revela algo do mistério mais profundo do homem; por sermos como somos, criaturas capazes de conhecer, amar, gerar, só podemos exprimir-nos em termos humanos, mas chegamos com a mais profunda admiração ao último porquê: como pôde ter nascido a idéia de “conhecer”, amar", "gerar"? Não nasceu. Ela é. Porque Deus é amor. O mistério de Deus não é um mistério de solidão, mas de convivência, criatividade, conhecimento, amor, de dar e receber; e por isso, somos como somos.
Buscar a Deus
Em nossa vida cotidiana, às vezes sombria, às vezes trágica ou muito complicada, em que devemos cuidar de mil coisas que nos pressionam de toda parte, a luz de Deus é o amor. Devemos voltar-nos para esta luz se não nos quisermos desviar do verdadeiro fim de nossa existência. Gostaríamos de poder dizer: "Aqui está Deus; Deus é assim...". Mas não é possível. O próprio Deus sai dos quadros e das imagens e se oculta naqueles que precisam de nós, e diz: "Aqui estou!" Esconde-se nos pequeninos da terra e diz: "Buscai-me aqui!" Quem quer viver com Deus não se encontra diante de uma conclusão, mas sempre diante de um início, novo como cada novo dia.